Fruto de uma releitura do material etnográfico sobre a atuação de um movimento cultural do extremo sul baiano, este artigo pretende discutir a noção de afroindígena tal como concebida pelo grupo, a partir de uma perspectiva pragmática. O exercício aqui proposto não é enquadrá-lo em categorias já conhecidas ou familiares, mas buscar analisá-lo mantendo intacta uma certa “rugosidade” característica dos modos de fazer e pensar ao qual está associado. Para o grupo, o conceito de afroindígena não seria um modelo, a partir do qual seria possível identificar uma etnia ou reconhecer um grupo em uma base natural de identificação. Afroindígena não é tampouco algo da ordem da identidade, nem mesmo do pertencimento. O conceito de afroindígena seria da ordem do devir, funcionando, por um lado, como um meio, um intercessor por onde passam ideias, ações políticas, obras de arte e seres do cosmos, e, por outro lado, como um produto inacabado ou efeito provisório de encontros singulares que envolveriam fluxos de “história” e “memória”; pessoas e técnicas; uma relação de aliança entre antepassados africanos e indígenas e a criação de esculturas, aqui entendida como um processo automodelador de subjetividades.
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Mello, C. C. do A. (2014). Devir-afroindígena: “então vamos fazer o que a gente é.” Cadernos de Campo (São Paulo - 1991), 23(23), 223–239. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v23i23p223-239
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