Analiso aqui discursos expressos em produções escritas por professores e professoras indígenas concluintes do curso de licenciatura em Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás, buscando dar sentido às suas concepções e representações de escrita acadêmica nas zonas de contato. Estes discursos são problematizados desde perspectivas teóricas decoloniais latino-americanas em intersecção com estudos críticos do letramento e do letramento acadêmico. De forma geral, estes discursos apontam para a naturalização de uma ordem hierárquica racial, consequentemente ontológica, cultural e epistemológica, no qual o domínio de certas práticas de letramento e a autoridade para usá-las no contexto acadêmico é ainda critério válido de classificação de grupos culturalmente diferentes. Ao destacar a intrínseca relação entre configurações textuais específicas e altamente valorizadas de letramento acadêmico e a forma de produção de conhecimento de matriz angloeurocêntrica, busco situar tais práticas de escrita no projeto mais amplo de modernidade/colonialidade e, coerentemente com o referencial adotado, busco apontar alternativas viáveis para a descolonização destas práticas, como a abertura da academia para novas possibilidades epistemológicas e, consequentemente, para novas formas de produção e expressão de conhecimentos, especialmente em contextos que se propõem interculturais. Nesta direção, sumarizo perspectivas indígenas e não-indígenas críticas contemporâneas sobre a relação entre formas de conhecimentos situados e outras possibilidades de apropriação da escrita acadêmica que consigam transmitir a localização geo-corpo-política de outras formas de pensar, conhecer e significar o mundo.In this work, I analyse written discourses by Indigenous teachers graduating in an Intercultural Education course, at Federal University of Goias, and I try to make critical sense of their conceptions and representations of academic writing in contact zones. These discourses are problematized in this article since Latin American decolonial theoretical perspectives intersected with assumptions form literacy and academic literacy critical studies. In the overall, these discourses point out to a naturalization of a racial hierarchical order, consequently, a ontological, epistemological and cultural one, in which mastering certain literacy practices and the authority to use them in the academic context is still a valid criterion for classification of groups culturally different. In highlighting an intrinsic relationship between the specific and highly valued textual configurations of academic literacy and the form of knowledge production from an Anglo-eurocentric matrix of power, I seek to situate such writing practices in the broader project of modernity/ coloniality and, consistent with the framework adopted, I seek for alternatives and viable ways for decolonization of these practices, such as the opening of the academy for new epistemological possibilities and hence to new forms of production and expression of knowledge, especially in intercultural contexts. In this direction, I sum up Indigenous and no Indigenous contemporary critical perspectives on the relationship between forms of situated knowledge and other possibilities of appropriation of academic writing so that they can transmit more clearly a geo-body politics location and then convey other ways of thinking, knowing and mean the world.
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Nascimento, A. M. do. (2014). Geopolíticas de escrita acadêmica em zonas de contato: problematizando representações e práticas de estudantes indígenas. Trabalhos Em Linguística Aplicada, 53(2), 267–297. https://doi.org/10.1590/s0103-18132014000200002
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