Introdução. A incontinência urinária (IU) é definida como qualquer perda involuntária de urina pela uretra que possa caracterizar um problema social e/ou higiênico. É uma patologia de importância pela sua alta incidência, visto que, acomete cerca de 30 a 60% de todas as mulheres durante o período de climatério e na menopausa, afetando negativamente suas vidas. Esta patologia é classificada em três tipos, a incontinência urinária de esforço (IUE) causada pela deficiência esfincteriana ou pela hipermobilidade da uretra, a incontinência urinária de urgência (IUU) secundária à instabilidade do músculo detrusor e a incontinência urinária mista (IUM) associada á urgência e às situações de aumento da pressão intra-abdominal, ou seja, uma combinação entre os dois tipos descritos anteriormente. A IUE frequentemente esta associada ao prolapso genital, definido como deslocamento das vísceras pélvicas no sentido caudal em direção ao hiato genital, sendo classificado em: prolapso uterino, prolapso de parede vaginal anterior (cistocele ou uretrocele) e prolapso de parede vaginal posterior (retocele ou enterocele). O deslocamento das vísceras pélvicas é decorrente do desequilíbrio entre as forças que mantêm os órgãos pélvicos em sua posição normal e aquelas que tendem a empurrá-los para fora. Os episódios de IU, assim como o prolapso genital, são causadores de constrangimento social, disfunção sexual e baixo desempenho profissional. No entanto, muitas mulheres consideram esta patologia uma condição normal e resultado do processo de envelhecimento, fato que as leva a não procura por tratamento. O tratamento pode ser realizado cirurgicamente ou através de técnicas conservadoras como a fisioterapia, a terapia comportamental e a terapia medicamentosa. Várias técnicas cirúrgicas têm sido empregadas para correção da IU, dentre as principais estão: o sling (suporte) pubovaginal, Kelly Kennedy, Burch e Marshall-Marchetti-Krantz. O sling foi desenvolvido em 1907, mas somente nas últimas décadas, após algumas modificações, passou a ser mais utilizado e aceito como primeira opção de tratamento para IUE. Quanto ao tratamento cirúrgico dos prolapsos vaginais, já foram descritas cerca de 40 técnicas diferentes, usando a via vaginal, abdominal ou laparoscópica, sendo a colpossacrofixação, uma das mais utilizadas na correção do prolapso de cúpula vaginal. A colpoperineoplastia (CPP) é a operação plástica realizada no períneo e na vagina, geralmente destinada a estreitar o canal vaginal, que consiste na aproximação das bordas do músculo diafragma urogenital na linha média, restaurando o assoalho pélvico lesado. O tratamento cirúrgico da IU não é efetivo em todos os casos, além do que pode ocorrer recidiva dos sintomas em um tempo inferior a 5 anos. São descritos diversos fatores associados a recidivas de IUE após correção cirúrgica, entre eles: cirurgia pélvica prévia, realização de perineoplastia posterior associada, idade, história obstétrica, obesidade, constipação e tosse crônicas, hipoestrogenismo e habilidade e familiaridade do cirurgião com a técnica cirúrgica utilizada. A fisioterapia é considerada a opção de primeira linha para IU, devido ao baixo custo, baixo risco e eficácia comprovada, porém, existem relativamente poucos serviços públicos de atendimento fisioterapêutico a mulheres Fone (45) 9921 4231 2 Docente. Mestre. Curso de Fisioterapia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná -UNIOESTE. Cascavel. incontinentes no Brasil. O tratamento adequado da IU deve-se basear na história clínica, exame físico completo das pacientes e estudo urodinâmico, já que, a confiança somente em dados da história clínica pode levar a erro diagnóstico em até 25% dos casos. Portanto o sucesso do tratamento depende do diagnóstico correto. Objetivo. Este estudo teve como objetivo identificar o perfil epidemiológico de mulheres que realizaram procedimento cirúrgico para correção de incontinência urinária no Hospital Universitário do Oeste do Paraná no ano de 2009. Materiais e Métodos. Trata-se de um estudo transversal, retrospectivo, de caráter quantitativo. A coleta de dados foi feita no Serviço de Apoio Médico Estatístico (SAME) do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) na cidade de Cascavel – PR, no período de abril a julho de 2010. Foram analisados todos os prontuários das pacientes atendidas no setor de ginecologia do HUOP com diagnóstico de incontinência urinária submetidas a tratamento cirúrgico no ano de 2009. Foram coletadas informações relativas á identificação das pacientes, diagnóstico, procedimentos realizados, utilizando-se uma ficha previamente elaborada. Todos os dados foram lançados em uma planilha do programa Excel 7.0 (Microsoft®), e posteriormente foram analisados em termos de freqüências relativas e absolutas. Este trabalho recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste-PR, em atendimento à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Parecer n° 065/2010 – CEP. Resultados. No período de pesquisa foram analisados 109 prontuários arquivados no SAME de pacientes atendidas no setor de ginecologia do HUOP no ano de 2009. A idade média das pacientes observada nos prontuários foi de 52,41 anos (± 12,51), sendo que 34 (31,19%) pacientes tinham idade entre 40 e 49 anos e 29 (26,61%) entre 50 e 59 anos, a idade mínima encontrada foi de 29 anos e a máxima de 88 anos. Observou-se que 95 (87,16%) das pacientes eram de cor branca, 12 (11,01%) eram de cor negra e 2 (1,83%) não informado. Em relação ao estado civil, 64 (58,72%) pacientes eram casadas, 12 (11,01%) viúvas, 11 (10,09%) solteiras, 10 (9,17%) divorciadas, 6 (5,50%) amasiadas, 2 (1,83%) separadas e 4 (3,67%) não informado. Quanto à cidade de origem 79 (72,48%) pacientes eram da cidade de Cascavel e 30 (27,52%) residiam em cidades da região, sendo que 102 (93,58%) prontuários eram de pacientes residentes na zona urbana e 7 (6,42%) na zona rural. Quando pesquisado sobre a religião, 74 (67,89%) pacientes eram católicas, seguidos por 21 (19,27%) evangélicas, 7 (6,42%) de outras religiões e 7 (6,42%) não informado. Com relação à profissão, 54 (49,54%) pacientes eram do lar, 10 (9,17%) aposentadas, 7 (6,42%) costureiras, 3 (2,75%) zeladoras, 3 (2,75%) agricultoras, 20 (18,35%) tinham outras profissões e 12 (11,01 %) não informado. O diagnóstico que prevaleceu entre as pacientes foi o de IUE em 96 (88,07%) pacientes, seguido por cistocele grau II em 30 (7,62%) e cistocele grau I 26 (23,85%). A IUM foi observada em 12 (11,01%) dos prontuários e a IUU em apenas 1 (0,92%). Quanto aos procedimentos cirúrgicos a técnica do sling associada à colpoperineoplastia (CPP) anterior foi a mais utilizada sendo aplicada em 73 (66,97 %) pacientes, seguido pelo sling + CPP anterior + posterior em 24 (22,02%), sling + CPP posterior em 4 (3,67%) e CPP anterior + posterior em 2 (1,83%) pacientes. Já quanto as técnicas realizadas separadamente, o sling foi utilizado em 4 (3,67%) pacientes, CPP anterior em 1 (0,92%) e CPP posterior em 1 (0,92 %) paciente. Quanto ao tempo de internação, verificou-se que as pacientes permaneceram internadas em média 2,83 (±0,99), sendo que 49 (44,95%) permaneceram internadas por 3 dias e 40 (36,70%) por 2 dias, o período mínimo de internamento foi de 1 dia e o máximo de 6 dias. Conclusão. Nos prontuários analisados verificou-se o predomínio de mulheres da cor branca, casadas, católicas, residentes na cidade de Cascavel, do lar, com idade entre 40 e 59 anos. O diagnóstico que prevaleceu entre as pacientes submetidas a procedimentos cirúrgicos foi o de IUE, sendo o procedimento mais realizado no HUOP a técnica de sling e CPP anterior.
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Frare, J. C., Souza, F. T. de, & Silva, J. R. da. (2011). Perfil de mulheres com incontinência urinária submetidas a procedimento cirúrgico em um hospital de ensino do sul do país. Semina: Ciências Biológicas e Da Saúde, 32(2), 185–198. https://doi.org/10.5433/1679-0367.2011v32n2p185
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