Primeiras considerações sobre o problema do erro em Espinosa: imaginação, inadequação e falsidade

  • Gleizer M
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Espinosa propõe uma solução para o problema do erro fundada essencialmente na noção de privação de conhecimento. Essa solução, no entanto, suscita duas grandes dificuldades de interpretação: (i) uma dificuldade acerca do sentido exato, da legitimidade e da eficácia do uso espinosista da noção de privação; (ii) uma dificuldade acerca das consequências que decorrem de sua solução para a determinação do valor de verdade das ideias inadequadas da imaginação. Com efeito, Espinosa demonstra que o conhecimento imaginativo é a única causa da falsidade, mas afirma em várias passagens da Ética que este gênero de conhecimento, considerado em si mesmo, não é falso nem contém erro algum, embora jamais o caracterize como verdadeiro. Como devemos entender esse estatuto cognitivo ambíguo da imaginação, isto é, de um gênero de conhecimento que, na medida em que tem algo de positivo, não é em si mesmo falso, mas que, no entanto, propicia o advento da falsidade e do erro no seio da verdade? O objetivo do artigo é oferecer uma solução para essa questão. Para tal, ele examina inicialmente alguns elementos acerca da origem e da natureza inadequada do conhecimento imaginativo com o intuito de evidenciar a articulação de seu estatuto cognitivo ambíguo com a duplicidade referencial constitutiva das ideias das afecções do corpo. Essa duplicidade permite encontrar diferentes conteúdos nos quais ancorar diferentes valores de verdade. Em seguida, ele procura determinar quais são os dois valores que essas ideias podem adquirir e por que a verdade está excluída deles. Para tal, o artigo mostra como só a compreensão da originalidade da teoria epistêmica da verdade formulada por Espinosa permite iluminar de modo satisfatório o problema das relações entre inadequação, falsidade e erro, de modo a tornar inteligível como as ideias inadequadas da imaginação podem, em certas circunstâncias, causar a falsidade e o erro e, em outras, ser simplesmente ideias não-verdadeiras que indicam positivamente como as coisas nos aparecem. Abstract Spinoza proposes a solution to the problem of error based essentially on the notion of privation of knowledge. This solution, however, raises two major difficulties of interpretation: (i) a difficulty about the exact meaning, legitimacy and effectiveness of Spinoza's use of the concept of privation, (ii) a difficulty concerning the consequences that follow from his solution for determining the truth-value of inadequate ideas of imagination. Indeed, Spinoza demonstrates that imaginative knowledge is the only cause of falsity, but affirms in several passages of the Ethics that this kind of knowledge, considered in itself, is not false nor contains any error, although he never characterizes ideas of imagination as true. How should we understand this ambiguous cognitive status of imagination, that is, of a kind of knowledge that, insofar as it has something positive, is not false in itself, but which provides, nevertheless, the advent of falsity and error within truth? The aim of this paper is to offer a solution to this issue. To do this, the paper first examines some elements concerning the origin and the inadequate nature of imaginative knowledge in order to display the articulation of its ambiguous cognitive status with the referential duplicity constitutive of ideas of the affections of the body. This duplicity allows us to find different contents in which anchor different truth-values. Then, it tries to determine the two truth-values that these kind of ideas can acquire and why truth is not included among them. To this end, the paper shows how only the understanding of Spinoza's original epistemic theory of truth allows us to clarify satisfactorily the problem of the relations between inadequacy, falsity and error, and renders thus intelligible how inadequate ideas of imagination can, in some circumstances, cause falsity and error, and in others, just be non-true ideas that positively indicate how things appear to us.  Recebido em 08/2014Aprovado em 09/2014

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Gleizer, M. A. (2014). Primeiras considerações sobre o problema do erro em Espinosa: imaginação, inadequação e falsidade. Analytica - Revista de Filosofia, 17(2), 149–180. https://doi.org/10.35920/arf.v17i2.2167

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