Não é muito freqüente as ciências sociais-institucional e profissional-mente-reagirem a um fato social que toma uma forma de acontecimen-to. Temos em geral uma espécie de reticência a tratar da atualidade, que preferimos deixar aos jornalistas, reclamando para nós mesmos a distân-cia e a duração: distância do olhar científico, duração da pesquisa etno-gráfica ou sociológica. Sob esse aspecto, a antropologia é exemplar: mui-to poucos de seus trabalhos tratam de acontecimentos, a descrição prevalece sobre a narração, o presente do intemporal e das regularidades é mais aceito que o passado simples do relato e das peripécias. E, mesmo que o tempo seja o objeto de nossas pesquisas, esse tempo é o da mudança social, ou seja, das mutações profundas e das transformações estruturais. Não o do acontecimento, que tendemos a ver apenas como a espuma de mudanças sociais mais essenciais à nossa análise. Mas com os fatos que se produziram no final do mês de outubro e começo de novembro de 2005, e pela importância que adquiriram para a sociedade francesa-e mesmo para o mundo, pois foram mostrados espetacularmente pelos meios de comunicação em todo o mundo-, há uma certa reabilitação do aconte-cimento, não como uma realidade acessória entregue ao tratamento jor-nalístico, mas como uma realidade essencial, na medida em que revela fenômenos dissimulados ou ocultos. Esses conflitos podem, seguramen-te, ser compreendidos como uma prova de verdade.
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Fassin, D. (2006). Conflitos do outono de 2005 na França. Tempo Social, 18(2), 185–196. https://doi.org/10.1590/s0103-20702006000200009
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