GEOGRAFARES, nº 6, 2008 • 155 A natureza do espaço para Milton Santos INTRODUÇÃO " O espaço se globaliza, mas não é mundial como um todo, senão como metáfora. Todos os lugares são mundiais, mas não há espaço mundial. Quem se globaliza, mesmo, são as pessoas e os lugares. " (SANTOS, 1994, p. 31) Não há espaço global e sim espaços de glo-balização, não existe um tempo global e único mas somente um relógio mundial, e as redes globais transportam o universal ao local. Todavia, são as redes locais as cons-tituidoras das condições técnicas do traba-lho direto. Os vetores da hegemonia criam localmente uma desordem, suas normas são indiferentes aos contextos nos quais se inse-rem pois sua finalidade é o mercado global, a mais-valia universal. Pontos distantes são unidos, pela telecomunicação, numa mesma lógica produtiva, estabelecendo processos globais. O mundo, ativo através das empre-sas gigantes, é um conjunto de possibilida-des dependente das oportunidades ofertadas pelos lugares; ele necessita da mediação dos lugares pois estes é que lhe oferecem a pos-sibilidade de realização, de se tornar espaço. A ordem global procura impor uma única ra-cionalidade e os lugares vão responder con-forme os modos de sua própria racionalidade. Estas são algumas das afirmações do geógra- fo Milton Santos (1926-2001) a respeito do mundo, uma " soma, que também é síntese, de eventos e lugares. A cada momento, mu-dam juntos o tempo, o espaço e o mundo. " Por isso, em cada período histórico o espaço geográfico é outro, e as ferramentas concei-tuais para a sua análise precisam ser revita-lizadas. Daí ser difícil estabelecer o signifi-cado de diversos conceitos utilizados pelo autor, notadamente de um geógrafo fecundo, pois eles não possuem o mesmo significado em toda a sua trajetória intelectual. O con-ceito de espaço geográfico é um exemplo. Um dos motivos é o fato de a realidade es-tar sempre se modificando, se tornando mais complexa e fazendo com que o conceito não dê mais conta de seu entendimento pois se aplicava a uma outra realidade. Outro mo-tivo está no fato de que, no início de uma carreira, normalmente se adota os conceitos dominantes no ambiente universitário viven-ciado como aluno. E ainda, porque caracte-riza o verdadeiro intelectual a busca perma-nente, a crítica constante, principalmente de si mesmo. Dogmatismos empedernidos não habitam a mente de intelectuais verdadeiros. Por estas razões e pelos objetivos deste tex-to, preferimos ficar com o significado dado a diversos conceitos em duas de suas obras
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de Campos, R. (2008). A natureza do espaço para Milton Santos. Geografares, (6). https://doi.org/10.7147/geo6.1023
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