(primeiro parágrafo do artigo)Transcorreram 32 anos desde que me coube descobrir, em Minas Gerais, a existência de música colonial erudita de elevada qualidade. É bem sabido a resistência que provocou este fato na crítica musical carioca, que ultrapassou nas suas arremetidas não poucas vezes os limites da ética profissional para me dificultar, com todos os meios possíveis, a continuação dos meus trabalhos de pesquisa e restauração de obras que foram incorporadas, já faz anos, ao repertório coral-sinfônico de conjuntos de responsabilidade e fama. Por razões bem diversas, mas no meio do maior respeito e amizade, tambem um setor da historiografia nacional, achando que correspondia aos religiosos desempenhar nas igrejas atividades musicais, não podia, de forma alguma, aceitar que estes misteres se desenvolvessem com inteira independência, exercidos por profissionais constituidos em corporações que agiam debaixo da égide da Irmandade de Santa Cecília, poderosa instituição fundada em Lisboa em 1603 e transplantada, como inúmeras tradições lusitanas, para o Brasil. Para o historiador, quem mexia com música eram os Padres e os Monges. Ainda mais resistência, inclusive em Minas Gerais, encontrou a minha afirmação de terem sido mulatos, durante dois ou mais séculos, os que se dedicavam com virtual exclusividade "racial", muito especialmente em Minas, ao exercício profissional da música erudita, na sua reconhecida condição de professores da arte da música. Salomão de Vasconcellos e Eduardo Frieiro pertenciam ao grupo que não acreditava nas minhas asserções, até serem vencidos por documentação contundente.
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Lange, F. C. (2023). Um fabuloso redescobrimento (para justificação da existência de música erudita no período colonial brasileiro). Revista de História, 54(107), 45–67. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.1976.78550
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