A educação tem duas funções principais numa sociedade capita-lista: a produção das qualificações necessárias ao funcionamento da economia, e a formação de quadros e a elaboração de métodos para um controle político. Mészáros, in Marx e a Teoria da Alimentação, 1981. A epígrafe nos indica, de imediato, que as relações sociais capitalistas constituem um bloco histórico dentro do qual se articulam dimensões da estrutura econômico-social 1 e da superestrutura ideológica e política. Isso sig-nifica que, dentro de uma compreensão dialética da realidade histórica, as dimensões econômicas, científicas, técnicas e políticas da educação se cons-troem de forma articulada por diferentes mediações e, por se darem numa sociedade de classes, se produzem dentro de contradições, conflitos, antago-nismos e disputas. Por esse motivo, embora a educação e a escola, na socieda-de capitalista moderna, tendam ao seu papel de reprodução das relações so-ciais dominantes, mediante – como nos expõe Gramsci – a formação de intelectuais de diferentes tipos, não se reduzem a ela. A educação em geral que se dá nas relações sociais e os processos educativos e de conhecimentos espe-cíficos que se produzem na escola e nos processos de qualificação técnica e tecnológica interessam à classe trabalhadora e a seu projeto histórico de supe-ração do modo de produção capitalista. Sabemos que a natureza estrutural das relações sociais do sistema capital é a mesma em qualquer parte do mundo, tendo a propriedade privada dos 242 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DO BRASIL CONTEMPORÂNEO meios e instrumentos de produção pelos capitalistas e, como decorrência, a extração da mais-valia (absoluta e relativa) como elementos centrais. Todavia, pelas contradições internas e pela luta intra e entre classes e frações de classes, o capitalismo assume particularidades e configurações diversas e desiguais em formações histórico-sociais específicas. Assim, a desigualdade entre os hemisfé-rios Norte e Sul ou entre países do capitalismo central e do capitalismo depen-dente periférico são expressões das relações de força intercapitalistas e das lutas anticapitalistas. Aqui buscamos, num primeiro item, discutir alguns aspectos dos fundamentos da compreensão da categoria trabalho e das bases científico-téc-nicas da produção no modo de produção capitalista em geral. O pressuposto básico é de que o trabalho é a categoria 'ontocriativa' da vida humana, e o conhecimento, a ciência, a técnica e a tecnologia e a própria cultura são media-ções produzidas pelo trabalho na relação entre os seres humanos e os meios de vida. 2
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Frigotto, G. (2006). Fundamentos científicos e técnicos da relação trabalho e educação no Brasil de hoje. In Fundamentos da educação escolar do Brasil contemporâneo (pp. 241–288). Editora FIOCRUZ. https://doi.org/10.7476/9788575416129.0009
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