O artigo que se apresenta tem com objecto de análise a representação do sentimento de insegurança face ao crime, com base no estudo comparativo de duas comunidades em Portugal, cujos modelos dominantes de sociabilidade pouco se assemelham - concelho de Mértola e linha de Sintra; concelho de Mértola erodido por uma contínua desertificação demográfica, e linha de Sintra em crescente expansão urbanística e demográfica. Procurou-se interpretar os discursos produzidos pelos entrevistados, sujeitos à influência não só dos signos e mecanismos que definem a modernidade, como ao efeito socializante dos grandes paradigmas que marcam a vivência nas sociedades contemporâneas. Normatividade e ruptura face ao estabelecido são uma constante ao longo do artigo. Não existe um sentimento de insegurança. O que habita os indivíduos são uma pluralidade de formas de expressar os receios construídos a partir do cruzamento de variáveis como: o tipo de solidariedade dominante na comunidade ou no local de residência; a proximidade residencial de locais vincados pela exclusão e por assimetrias socioculturais e económicas; e a experiência de vitimação directa ou emocionalmente próxima. Conclui-se que tais variáveis condicionam as práticas e as representações que os indivíduos vão construindo acerca da definição dos agentes e suas motivações para o comportamento desviante, assim como da eficácia dos mecanismos de controlo social.This article analyzes the representation of the feeling of insecurity in the face of crime, based on the comparative study of two communities in Portugal, with different models of sociability - concelho de Mértola and linha de Sintra; concelho de Mértola, eroded by a continuous demographic desertification, and linha de Sintra in increasing urban and demographic expansion. The paper interprets the interviews as a result of the influence of the signs and mechanisms that define modernity, and the socializing effect of the great paradigms that characterize life in contemporary societies. Normativity and rupture in face of the status quo appear constantly throughout the article. There is no feeling of insecurity. The individuals have many ways to express the apprehension that results from the intersection of variables such as: the dominant type of solidarity in the community or place of residence; residential proximity to places marked by exclusion and socio-cultural and economic asymmetries; and the experience of victimization, either direct or emotionally close. It appears that these variables influence the practices and representations that individuals create to define the agents and their motivation for deviant behavior, as well as the efficacy of the mechanisms of social control.
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Leal, J. M. P. (2010). O sentimento de insegurança na discursividade sobre o crime. Sociologias, (23), 394–427. https://doi.org/10.1590/s1517-45222010000100014
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