http://dx.doi.org/10.5007/1980-4237.2014n16p91O teórico e crítico de tradução francês Antoine Berman afirma que as traduções literárias em suas formas tradicionais e dominantes representam um ato culturalmente etnocêntrico, isto é, que traz tudo à sua própria cultura, às suas normas e valores, buscando fazer com que se esqueça que se trata de uma tradução. Para se opor a essa prática dominante, o autor propõe uma tradução que não esconda o elemento estrangeiro na obra traduzida, e que para isso seja fiel à “letra” (lettre) do original. Essa oposição é muito conhecida também nos termos utilizados pelo teórico norte-americano Lawrence Venuti, que fala em “domesticação” (domestication) e “estrangeirização” (foreignization) para se referir respectivamente às práticas tradutórias que ocultam as diferenças culturais, adaptando tudo à cultura de chegada, e àquelas que mantêm a estranheza do texto original e da cultura de partida. Interpretações mais radicais das ideias desses autores podem levar a pensar a tradução como dividida nessas duas possibilidades, e muitas vezes à escolha de uma delas como ideal e a outra como condenável. Entretanto, assim como com dicotomias mais antigas (literal x livre, equivalência formal x equivalência dinâmica, etc.), também estas não são duas categorias estanques, podendo haver diferentes combinações de ambas na tradução de um mesmo texto, além de estratégias híbridas ou soluções que não representam nem uma nem outra posição. Neste trabalho discuto a problematização dessa dicotomia, incluindo exemplos de minha tradução do italiano para o português do livro infantojuvenil O diário de Gian Burrasca, de Luigi Bertelli (Vamba).ABSTRACTFrench translation theorist and critic Antoine Berman states that in their traditional and dominant forms literary translations represent a culturally ethnocentric act, which adapts everything to its own culture, standards and values, seeking to make readers forget that they are reading a translation. To oppose this dominant practice, the author suggests a kind of translation that would not hide the foreign element in the translated work, one that is faithful to the “letter” (lettre) of the original text. A similar opposition to that / to Berman’s is also well-known through the terms “domestication” and “foreignization” as defined by American theorist Lawrence Venuti, who uses them to refer to translation practices that on one hand conceal cultural differences, adapting everything to the target culture, and on the other keep the strangeness of both source text and culture in the translation. Radical interpretations of these authors’ ideas may lead to the misconception that translation is divided into those two possibilities, and often to the judgement that one of them is ideal and the other condemnable. Nevertheless, as with other older dichotomies (literal vs. free translation, formal vs. dynamic equivalence, etc.), these are not clearly distinguishable and opposed categories. There may be different combinations of them in the translation of a text, as well as hybrid strategies or solutions that do not represent either one of them. In this paper I discuss the problems of such dichotomy, drawing examples from my translation of Luigi Bertelli’s book Il giornalino di Gian Burrasca from Italian to Portuguese.Keywords: foreignization; domestication; dichotomy.
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Francisco, R. (2016). Estrangeirização e domesticação: indo além de mais uma dicotomia. Scientia Traductionis, (16), 91. https://doi.org/10.5007/1980-4237.2014n16p91
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