RESUMO: Foucault pensou o papel do intelectual na contestação a Sartre e aos pressupostos do engagement, em especial os associados à filosofia da consciência e ao humanismo. Depois de 1968, porém, quando os funda-mentos políticos do sartrismo desabavam-em particular a proximidade do Partido Comunista-Sartre pôde fazer causa comum com Foucault, ao mesmo tempo que este assumia, de boa ou má vontade, papéis que sem-pre negara, como o da voz pública. Q ue papel Michel Foucault alocou ao intelectual? Eis uma questão que é essencial formular aqui, não só por sermos, nós, desta profis-são, e assim lidarmos com um tema que fala a nosso narcisismo; mas, sobretudo, porque junto com o anti-humanismo, a derrubada da primazia que a filosofia existencialista outorgara ao homem, Foucault tam-bém efetuou uma liquidação em regra desse outro legado sartriano que foi o relevo conferido ao intelectual enquanto consciência moral da política. Uma política humanista tinha, assim, uma espécie de fiador no intelectual; mas, para explicitar isso, devemos passar por Sartre, que nas questões precisas da militância política (devemos quase nos controlar para não falar em "engaja-mento") e do papel do intelectual, é a referência contra a qual Foucault se constitui 1. Seria impossível entender a política sartriana sem a presença, ainda que distante, do comunismo. É verdade que o filósofo jamais se filiou ao Par-tido, e que suas relações foram, por vezes, muito tensas. Depois da repressão soviética à rebelião húngara, ele escreve um longo ensaio, O fantasma de Stalin (Sartre, s/d), que constitui um acerto de contas com o que é
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RIBEIRO, R. J. (1995). O intelectual e seu outro: Foucault e Sartre. Tempo Social, 7(1–2), 163–173. https://doi.org/10.1590/ts.v7i1/2.85220
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