Apenas do ponto de vista estritamente anatômico o lobo occipital pode ser delimitado com relativa facilidade. Aparentemente constitui uma unidade morfológica, séde de estruturas basicamente relacionados com a percepção visual, aí entendidos também certos mecanismos integrativos óculo-motores que, em última análise, não são senão componentes dêste complexo fenômeno perceptivo. Depois de revistos alguns detalhes da anatomia convencional do lobo occipital (limites, área cortical estriada, peri-estriada e para-estriada) é feita uma tentativa, à base de estudo da literatura, no sentido de indicar as principais conexões destas áreas (radiações ópticas, feixes de associação, fibras de projeção e fibras comissurais) com diferentes estruturas do sistema nervoso central. A vascularização do lobo occipital é revisada com o auxílio de preparações anátomo-radiológicas seriadas e seletivas de diferentes troncos arteriais, nas quais se constatam intercomunicações entre os setores "terminais" dos sistemas das artérias cerebral posterior, média e anterior. Algumas variações morfológicas dos cornos occipitais são também postas em evidência com recursos de técnicas anátomo-radiológicas. Todavia, dados puramente anatômicos não são suficientes para compreensão das funções psico-fisiológicas do lobo occipital que pode ser conceituado como parte de um sistema perceptivo — o sistema óptico — altamente complexo, funcionando integradamente com múltiplos sectores do sistema nervoso e envolvendo diferentes mecanismos. Muito provàvelmente êste sistema, à maneira de muitos outros sistemas biológicos, está composto de vários circuitos mutuamente conjugados agindo sob o princípio de servo-mecanismos, devendo sua ação ser encaixada dentro do conceito das "totalidades" (Gestalten), cuja funcionalidade não deriva da soma dos seus componentes, mas da relação funcional que estes mantém entre sí para a atuação conjunta. Como toda função superior, a função visual não pode ser estritamente localizada e resulta da integração de estruturas funcionando conjugadamente.} Melhor entendimento desta função vem sendo progressivamente favorecido mediante o estudo da patologia, dos resultados da neurocirurgia experimental, dos efeitos de certas ablações neurocirúrgicas no homem e, sobretudo, das atuais referinadas técnicas eletro-neurofisiológicas. Malgrado êstes avanços há ainda muitos aspectos mal definidos aguardando melhores elucidações.Only from a strictly anatomical point of view the occipital lobe can be traced with relative facility. Apparentely it constitues a morphological unit representing the site of structures basically related to visual perception, therein included some other oculo-motor integrative mechanisms which are nothing else but components of this complex perceptive phenomenon. The principal parts of the conventional superficial anatomy of the occipital lobe (striated, peristriaded and para-striated cortical areas) and the principal connections (optical radiations, association tracts, projection and commissural libers) with different structures of the nervous system are indicated. The vascularization of the occipital lobe is revised by the use of serial and selective anatomic-radiological preparations of the different arterial trunks in which it could be verified wide intercommunications between the terminal sectors of posterior, medial and anterior cerebral arterial systems. Some morphological variations of the occipital horns of the lateral ventricles are emphasized. However purely anatomic data are not sufficient enough for the understanding of the psycho-physiological functions of the occipital lobe which has to be considered as a part of a perceptive highly complex system. Very probably this system in the same way of many other cerebral ones is composed by several circuits mutually conjugated acting under the principle of servomechanisms and ruled by the conception of totality (Gestalten) whose funccionality does not depends on the sum of its components but on the relationships that the different parts mantain among themselves. This means that, as in every superior cerebral function, the visual activity cannot be strictly localised as it results from the integration of many structures working harmoniously. A better understanding of this function is being progressivly increased by the study of pathology, by the results of experimental neurosurgery and neurosurgical ablations in man and, above all, by experimental rechearches based on refined electroneurophysiological techniques. Nevertheless, in spite of some advances there are still many aspects waiting for further elucidation.
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Barros, M. C. de, Cardoso, A., & Holanda, G. (1972). Conceito anátomo-fisiológico do lobo occipital. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 30(1), 30–44. https://doi.org/10.1590/s0004-282x1972000100003
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