O homem é o grande fazedor de Desertos (Euclides da Cunha) A produção agropecuária da região Nordeste do Brasil experimenta grandes obstáculos associa-dos a uma complexa sinergia de fatores que con-correm para a depredação da base de recursos na-turais da região e que dificultam, ou até inviabilizam, produzir bens agrícolas em boa parte dos municípi-os dos nove estados que a compõem. Pode-se lis-tar estes fatores da seguinte forma: primeiro, o ele-vado nível de concentração fundiária, que se cons-titui num reflexo da forma como a terra está apro-priada no Brasil, que é uma das mais desiguais do mundo. Isto induz uma grande concentração de fa-mílias, quase sempre numerosas, em pequenos estabelecimentos ou minifúndios. A grande concen-tração de pessoas nesses microestabelecimentos conduz a uma superexploração, o que representará sobrecarga sobre a base de recursos naturais. Por outro lado, nos grandes estabelecimentos observa-se a substituição do revestimento natural por exten-sas áreas com pastagens, naturais e/ou plantadas, ou por imensas áreas de monoculturas que têm um impacto marcante sobre a paisagem natural, com efeitos sobre a flora e a fauna nativas. O segundo fator que contribui para esta pres-são sobre a base de recursos naturais no Nor-deste é a instabilidade climática, cuja melhor tra-dução é a ocorrência sistemática das secas. Em-bora o Nordeste, em geral, apresente um nível de precipitação de chuvas relativamente reduzi-do, sobretudo no semi-árido, que ocupa mais da metade do território da região, este não constitui o problema crucial, haja vista que se sabe da exis-tência de tecnologias adequadas para a produ-ção agropecuária em condições de deficiência pluvial (Luebs, 1983; Van Bavel & Hanks, 1983). Parece que o maior problema do Nordeste, nes-te item precipitação de chuvas, refere-se à forma irregular com que as chuvas se distribuem na Re-gião, tanto temporal como espacialmente. O terceiro fator responsável pelo atual estado de devastação por que passam praticamente to-dos os municípios nordestinos é a forma como as atividades agrícolas são praticadas na Região. De um lado, observam-se as práticas dos pequenos produtores (proprietários ou não proprietários das terras em que trabalham) explorando a terra inten-sivamente até a exaustão da sua fertilidade natural, e sem qualquer prática de reposição dessa fertili-dade. Esse tipo de exploração ocorre devido ao extremo nível de pobreza em que vivem as famílias aí localizadas (Lemos, 1999). A principal preocu-pação desses produtores é com a sobrevivência; assim, não têm acesso às técnicas preservacionis-tas de uso do solo. O baixo nível de fertilidade natural que predomina na maioria dos solos da re-gião (Duque, 1980) desaparece rapidamente, sem reposição. Por outro lado, no setor dito " moder-no " da produção agropecuária nordestina, obser-va-se o uso intensivo do fator capital nas suas di-ferentes formas, tais como tratores, equipamentos mecânicos pesados e agroquímicos em geral. O uso intensivo de máquinas pesadas, que em gran-de parte foi financiado com recursos públicos, con-duz à compactação do solo, eliminação da cober-tura vegetal natural e destruição da camada super-ficial do solo e do humo. Assim, os solos ficam expostos tanto à ação dos raios solares, que inci-dem de forma vertical neste lado do hemisfério, como também à ação das torrentes pluviais. Estes dois fatores, associados aos ventos, provocam a erosão dos solos. Por sua vez, o uso intensivo de fertilizantes e corretivos químicos também leva à degradação deste recurso natural, porque os so-los do Nordeste, em geral, não dispõem de capa-cidades físicas e químicas para absorver estes pro-dutos nas quantidades que seriam requeridas para a reposição da fertilidade (Duque, 1980). A utili-zação de pesticidas contribui para eliminar os ini-migos naturais das pragas e dos patógenos causa-dores das doenças das plantas, bem como parte expressiva da fauna natural, afetando dramatica-mente o equilíbrio dos ecossistemas da Região; assim, destroem a capacidade do ambiente de au-toproteger-se.
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Silva, M. J. F. da. (2018). O problema. In Investigando saberes de professores do ensino fundamental com enfoque em números fracionários para a quinta série (pp. 19–40). EDITORA BLUCHER. https://doi.org/10.5151/9788580391565-02
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