“SOU UM CORPO ESTRANHO NO CONJUNTO”: NARRATIVAS DE UM ESTUDANTE NEGRO MIGRANTE EM UMA UNIVERSIDADE BRASILEIRA

  • Rodrigues C
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RESUMO O pensamento moderno ocidental se constitui em um sistema de distinções visíveis e invisíveis de separação social, cultural e epistêmica. São linhas abissais (SANTOS, 2007) que determinam categorizações hegemônicas de sujeito, raça, língua e conhecimento, as quais posicionam, do lado superior da linha, um ideal de homem moderno e, do lado inferior, formas subalternas e silenciadas de ser e estar no mundo. Com o objetivo de problematizar como o aluno negro migrante sofre com os efeitos das divisões abissais no espaço universitário e produz uma resposta a essas categorizações estabelecidas no contexto, neste trabalho, trago os relatos de um estudante haitiano, graduando em uma universidade pública brasileira. Jean, aprovado no curso de Bacharelado em Geografia, por meio de uma política de inclusão de migrantes refugiados e portadores de visto humanitário no ensino superior, narrou algumas experiências vividas no seu primeiro semestre da graduação. A partir de suas narrativas, recorro a uma perspectiva de Linguística Aplicada Crítica (MOITA LOPES; FABRÍCIO, 2019; PENNYCOOK, 2001; 2006) para tecer reflexões sobre linguagem, racialidade e decolonialidade, com base em estudos de Almeida (2019), Anya (2017), Carneiro (2005); Gomes (2005), Fanon (2008), Nascimento (2019) e Santos (2007). Discuto ainda como o conceito de raça, construído social, histórica, cultural e discursivamente (GOMES, 2005) e a racialização das identidades (ANYA, 2017) reproduzem linhas abissais em diferentes segmentos da vida do estudante no espaço universitário e delimitam divisões coloniais de fala e silenciamento, legitimidade e exclusão.ABSTRACT Modern western thinking is a system of visible and invisible distinctions of social, cultural, and epistemic separation. These are abyssal lines (SANTOS, 2007) that determine hegemonic categorizations of subject, race, language, and knowledge, which position, on the upper side of the line, an ideal of modern man and, on the lower side, subordinate, and silent ways of being in the world. To problematize how the black migrant student suffers from the effects of the abyssal divisions in the university and produces a response to these categorizations established in the context, I bring narratives of a Haitian graduation student from a Brazilian public university. Jean, who was approved to study in the Geography Bachelor course through a special selection process for refugee students in higher education, narrated some experiences lived during his first semester in graduation. Based on his narratives, I resort to a Critical Applied Linguistics perspective (MOITA LOPES; FABRÍCIO, 2019; PENNYCOOK, 2001; 2006) to discuss reflections on language, raciality and decoloniality, based on Almeida (2019), Anya (2017), Carneiro (2005), Gomes (2005), Fanon (2008), Nascimento (2019) and Santos (2007). I also discuss how the concept of race, socially, historically, culturally and discursively constructed (GOMES, 2005) and the racialization of identities (ANYA, 2017) reproduce abysmal lines in different segments of the student’s life in the university, and define colonial divisions of speech and silence, legitimacy and exclusion.

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Rodrigues, C. V. (2021). “SOU UM CORPO ESTRANHO NO CONJUNTO”: NARRATIVAS DE UM ESTUDANTE NEGRO MIGRANTE EM UMA UNIVERSIDADE BRASILEIRA. Trabalhos Em Linguística Aplicada, 60(1), 114–125. https://doi.org/10.1590/01031813825511220201031

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