Introdução Embora o fogo tenha moldado os ecossistemas mediterrâneos, os regimes de ocorrência de fogo, isto é, a sua frequência e intensidade, modificaram-se. O ciclo natural de fogo foi reduzido (J. PeReiRa et al., 2006), os fogos tornaram-se mais recorrentes (F. FeRReiRa-Leite et al., 2011), aumentaram em intensidade e extensão, tomaram dimensões catastróficas e perderam o seu papel de renovação dos ecossistemas (R. Noss et al., 2006). As mudanças socioeconómicas verificadas no início da segunda metade do século XX, nos países europeus do sul da Europa, parece terem contribuído para um cenário onde os incêndios se tornaram mais prováveis de ocorrer e mais difíceis de extinguir, devido à elevada quantidade de biomassa acumulada ao longo dos anos (L. LouRenço, 1991; R. Vélez, 1993; J. MoReno et al., 1998; F. Rego, 2001) e que, conjugada com condições climáticas muito propícias (S. Pyne, 2006), está pronta para alimentar incêndios catastróficos, resultando no incremento da dimensão das áreas ardidas (F. FeRReiRa-Leite et al., 2013). Embora sejam estatisticamente irrelevantes, quando comparados com o total das ocorrências registadas em Portugal, os grandes incêndios florestais (entendidos atualmente, para efeitos estatísticos, como aqueles que possuem uma área ardida igual ou superior a 100ha), são os responsáveis pela maioria da área ardida anualmente. Apesar de, nos últimos anos, não haver um aumento estatisticamente significativo do número de grandes incêndios florestais, em contrapartida verifica-se uma ligeira tendência para o aumento do número dos incêndios de maior extensão, tanto mais vincada, quanto maior a sua grandeza. Apesar de apenas na década de 80, do século anterior, se ter ultrapassado o limiar dos 10.000ha de área ardida por um só incêndio, já anteriormente, pelo menos desde o século XIX, que existem relatos escritos de incêndios com áreas ardidas da ordem dos 5.000ha (F. Silva E C. Batalha, 1859; E. NavaRRo, 1884; A. Pinto, 1939). Por outro lado, muito embora a década de 70 marque o início de uma fase de incremento tanto do número de incêndios como da dimensão das áreas ardidas, fruto das consequências das profundas transformações então em curso na sociedade portuguesa, a verdade porém é que os eventos com consequências dramáticas são anteriores a este período, como foi o caso dos grandes incêndios florestais dos anos 60. No presente trabalho pretendemos destacar a década de 60, do séc. XX, onde, um pouco por todo o país, se verificaram alguns incêndios de grande dimensão, como sejam os casos de Vale do Rio/Figueiró dos Vinhos (1961) (L. LouRenço, 2009), Viana do Castelo (1962), Boticas (1964) e Sintra (1966) (PNDFCI, 2005). A realidade dendrocaustológica da segunda metade do século XX em Portugal Continental Foi a partir do último quartel do século passado que os incêndios florestais em Portugal Continental registaram um aumento significativo. Este aumento extraordinário, tanto do número de incêndios florestais como das áreas ardidas, especialmente depois de 1973 (fig. 1), ficou a dever-se a causas de índole diversa, muitas das quais terão resultado da política de reflorestação iniciada em 1901 e que, entre 1938 e 1974, foi responsável pela arborização de 287.000ha de dunas móveis e de baldios montanhosos (A. Bento Gonçalves, 2011), e, sobretudo, às profundas alterações introduzidas na estrutura socioeconómica da população portuguesa, em especial da residente nas áreas florestais, não só em resultado das transformações subsequentes à revolução de Abril, mas também em sintonia com o que acontecia nos países do sul da Europa. Os dados relativos ao período 1943-1967 foram retirados de R. NatáRio (1997) e os alusivos ao período 1968-1979 de L. LouRenço (2012), baseados nas estatísticas oficiais existentes, que contemplavam apenas áreas públicas. De facto, o levantamento dos incêndios ocorridos durante os anos de 1943 a 1979, inclusive, realizava-se somente * O texto desta nota corresponde à comunicação apresentada ao VII Encontro Nacional de Riscos e I Forum ISCIA, tendo sido submetida em 04-11-2013 e aceite para publicação em 16-04-2014. Esta nota é parte integrante da Revista Territorium, n.º 21, 2014, © Riscos, ISBN: 0872-8941.
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Leite, F. C. F., Gonçalves, A. J. B., & Lourenço, L. (2014). Grandes incêndios florestais na década de 60 do século XX, em Portugal continental. Territorium, (21), 189–195. https://doi.org/10.14195/1647-7723_21_16
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