ESTUDOS AVANÇADOS 15 (43), 2001 289 UANDO olhamos para os últimos 80 anos da história brasileira, encontra-mos, na base do nosso progresso, um formidável avanço tecnológico na agronomia. Foi ela que abriu os horizontes de nossa agricultura e, a partir daí, criou o mercado para os produtos industriais e serviços da moderna econo-mia. Se não fosse a tecnologia agronômica, nossa poderosa indústria citrícola não existiria: os pomares teriam desaparecidos nos anos 40, destruídos pela "triste-za". Os canaviais teriam sido eliminados pelo carvão e pelo mosaico nos anos 50. Os cafezais, nos anos 60, pela ferrugem. Não teríamos o milho híbrido nem o melhoramento do algodão. A soja não progrediria tanto com as novas varieda-des. Frutas, verduras e flores não teriam se desenvolvido da mesma forma. Para onde quer que voltemos nossos olhos-grãos, raízes, fibras, frutas, le-gumes, pastagens, florestas-encontramos o testemunho formidável do trabalho dos engenheiros agrônomos, estes heróis que, somando sua luta à dos agriculto-res brasileiros, construíram o Brasil, hectare por hectare, semente por semente, décadas e décadas de anônima dedicação. Só por isto, por seu esforço nas áreas de pesquisa, ensino, extensão, produ-ção, deveriam ser respeitados, admirados e decantados pela sociedade urbano-industrial de hoje. Mas não o são. Já foram, em passado recente, quando, nas ci-dades do interior, o agrônomo era tão importante quanto o juiz, o promotor, ou o presidente da Câmara Municipal. Por que isto mudou? O que mudou? Por que perderam valor perante os olhos dos cidadãos urbanos? E, mais ainda, o que fazer para resgatar esta verdade? Esta justiça? Afinal, os agronegócios representam 21% do PIB nacional, ou 25% do total de produção do país. Empregam 37% dos trabalhadores brasileiros e correspondem a 40% das nossas exportações, sendo o único grande setor superavitário da balan-ça comercial. São, portanto, o maior negócio do país. E têm a maior importância social, pela geração de empregos. No entanto, falta o proporcional peso na política: o agronegócio perdeu poder político, apesar de as lutas de alguns parlamentares que representam com dignidade o setor no Congresso Nacional. A agricultura perdeu poder político. Os agricultores perderam espaço, superados que foram por outros setores mais ágeis e melhor organizados. Daí a diminuição da importância social do agricultor e do técnico do setor. Eles são os condutores deste segmento politicamente de-Agricultura e agronomia ROBERTO RODRIGUES Q
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Rodrigues, R. (2001). Agricultura e agronomia. Estudos Avançados, 15(43), 289–302. https://doi.org/10.1590/s0103-40142001000300022
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