Cad. Saúde Pública 2020; 36(2):e00234419 Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodu-ção em qualquer meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. Desastres tecnológicos e emergências de saúde pública: o caso do derramamento de óleo no litoral do Brasil Technological disasters and public health emergencies: the case of oil spill on the Brazilian coast Desastres tecnológicos y emergencias de salud Introdução No final de agosto de 2019, manchas de óleo começaram a ser detectadas no litoral do Nordeste do Brasil. Essas manchas, que posteriormente foram identificadas como óleo bruto/petróleo, até o pre-sente momento, têm origem presumida de derramamento de algum navio em trânsito pela costa bra-sileira. As primeiras ocorrências foram registradas nos estados de Pernambuco e Paraíba 1 , até o final de novembro já haviam alcançado todos os estados da região, compreendendo mais de 400 localidades e, posteriormente, atingiram o Espírito Santo e o litoral norte do Rio de Janeiro. Portanto, é um evento de enorme extensão geográfica, gerando graves danos ambientais e impactando as condições de sub-sistência de inúmeros grupos populacionais que dependem da pesca e do turismo. No que pese a exposição de grande contingente de pessoas que trabalharam na tentativa de con-tenção ou remoção das manchas e resíduos do óleo no mar e na limpeza das praias, muitas das quais mantendo contato direto e sem qualquer proteção, o registro de casos humanos com manifestações clínicas agudas relacionadas a este tipo de exposição é relativamente pequeno. Entretanto, esses registros somente se referem aos casos que foram notificados ao Ministério da Saúde, o que provavel-mente não representa a totalidade de pessoas expostas que apresentaram alguma sintomatologia. Por exemplo, o Estado de Pernambuco reportou em torno de 90% das notificações, enquanto que muitos outros estados seriamente afetados pelo desastre não notificaram casos de intoxicação aguda 2. Dados referentes aos 149 casos notificados em Pernambuco até o dia 15 de novembro indicavam que a expo-sição aconteceu com maior predominância por vias cutânea e respiratória, sendo os sinais/sintomas mais frequentes: cefaleia, náuseas, tontura, irritação na pele, falta de ar, prurido, vômito e diarreia 3 , sem relato de casos graves ou óbitos até o presente momento. Embora não constem nos informes do setor saúde, de acordo com informações disponíveis nas mídias, os principais indivíduos expostos podem ser classificados em dois grupos: pessoas que trabalharam nas ações de contenção/remoção do óleo e limpeza das praias (voluntários, ONGs, profissionais de órgãos de meio ambiente, defesa e defesa civil) e os trabalhadores envolvidos na pesca artesanal (pescadores, marisqueiras e seus familiares). Deve-se considerar também a exposição devido ao consumo de peixes e mariscos contaminados, assim como a exposição eventual de turistas e banhistas, embora o contato direto com os produtos das manchas de óleo tende a ser menor que para os demais grupos.
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Carmo, E. H., & Teixeira, M. G. (2020). Desastres tecnológicos e emergências de saúde pública: o caso do derramamento de óleo no litoral do Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 36(2). https://doi.org/10.1590/0102-311x00234419
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