Inovador na aparência, em seu enunciado a geografia cultural apresenta um duplo problema epistemológico. Trata-se de um novo ramo da geografia ou de uma escola de pensamento que pretende reorganizar o conjunto dos saberes da disciplina? O projeto de uma geografia cultural retoma e subscreve as ambiguidades do termo “cultura” nas ciências sociais contemporâneas. Além disso, o termo “cultura” corresponde frequentemente a uma versão frágil da noção de sociedade, em particular nos trabalhos anglófonos. Essa geografia, que aborda as sociedades sem dizer isso claramente, foi forjada com novas ferramentas para explorar a dimensão espacial dessas sociedades? Se a “virada cultural” certamente contribuiu para fazer avançar nosso olhar sobre o mundo social em certos domínios, a resposta a essa questão não é sempre consistente. No final das contas, duas características, que podem parecer periféricas, se revelam essenciais para esclarecer a lógica dessas hesitações. Uma, teórica, diz respeito à possibilidade de um eventual paradigma para as ciências sociais travestir-se de conceito de sociedade. A outra, efeito prático da primeira, concerne ao uso de discursos acadêmicos que pretendem fundar o “multiculturalismo” como o respeito às “culturas” para legitimar o comunitarismo contra a “sociedade de indivíduos”.
CITATION STYLE
Lévy, J. (2015). Qual o sentido da Geografia Cultural? Revista Do Instituto de Estudos Brasileiros, (61), 19. https://doi.org/10.11606/issn.2316-901x.v0i61p19-38
Mendeley helps you to discover research relevant for your work.