Pesquisas realizadas por Radojevic & Hassan (1999) em Brunei Darussalam, nas ilhas Bornéo, indicam alguns dos efeitos que as queimadas de florestas de-sencadeiam na região: drástica redução da visibilidade, fechamento de aeropor-tos e escolas, aumento de acidentes de tráfego, destruição da biota pelo fogo, aumento na incidência de doenças, diminuição da produtividade, restrição das atividades de lazer e de trabalho, efeitos psicológicos e custos econômicos. Den-tre os sintomas de doenças e doenças observados relatam infecções do sistema respiratório superior, asma, conjuntivite, bronquite, irritação dos olhos e gar-ganta, tosse, falta de ar, nariz entupido, vermelhidão e alergia na pele, e desor-dens cardiovasculares (Radojevic, 1998). Outro efeito significativo em termos climáticos é que as partículas em suspensão acabam por interferir no processo de formação de núcleos de con-densação, alterando os mecanismos de formação de nuvens e o albedo, conse-qüentemente alterando os processos radiativos e os ciclos hidrológicos nas regiões tropicais (Yamasoe et al., 2000). Pesquisas realizadas dentro do projeto SCAR-B indicaram que o raio dos aerossóis emitidos por queimadas teve um aumento de 60% na atmosfera nos três primeiros dias devido à condensação e à coagulação, indicando uma correlação positiva entre os núcleos de condensação e as concen-trações de fumaça que afetam as propriedades das nuvens (Kaufman et al., 1998). O mesmo experimento demonstrou que as partículas em suspensão da fumaça, abaixo de 4km, faziam uma trajetória que ia da Amazônia para Sul, e em seguida para Leste, deixando o continente nas latitudes 25 o S-30 o S. Cálculos de transfe-rência de radiação mostraram um decréscimo da adsorção da radiação solar no sistema atmosférico de superfície devido aos aerossóis da fumaça, em valores que variavam de 5 a 50 W m 2 (Nobre et al., 1998). Reduções na incidência da radiação fotossinteticamente ativa na ordem de 20 a 45% foram observadas du-rante dois meses de queimadas, em comparação a períodos fora da época de queimadas, em várias localidades na parte sul da bacia amazônica. Essas signifi-cativas reduções na radiação incidente na superfície devido à grande carga de aerossóis podem ter implicações na produção primária dos ecossistemas sensí-veis (Eck et al., 1998). Portanto, em virtude de mudanças nos ecossistemas, há também um risco potencial de alterações na presença de vetores de doenças infecciosas e alterações nas atividades de fotossíntese de cultivos agrícolas que eventualmente podem desencadear efeitos na própria nutrição humana. Existe, sem dúvida, um campo muito amplo de investigações sobre o tema.
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Ribeiro, H., & Assunção, J. V. de. (2002). Efeitos das queimadas na saúde humana. Estudos Avançados, 16(44), 125–148. https://doi.org/10.1590/s0103-40142002000100008
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