Aproveitei essa oportunidade para quebrar o silêncio entre aquelas/es de nós, críticas/os, como somos atualmente chamadas/os, que fomos intimidadas/os ou desvalorizadas/os pelo que defino como a 'disputa de teorias'. 1 Convenci-me de que os filósofos ocidentais das velhas elites literárias, os humanistas neutros, assumiram o controle do mundo literário. Os filósofos conseguiram levar a cabo essa tomada de poder devido ao fato de grande parte da literatura ocidental ter se tornado pálida, marcada por desesperança, autocondescendente e desconexa. Os Novos Filósofos, ansiosos por compreender um mundo que velozmente escapa de seu controle político, redefiniram a literatura de tal forma que as diferenças subentendidas pelo termo, ou seja, a distinção entre tudo aquilo que estiver na forma escrita e aqueles textos produzidos com a finalidade de evocar sentimentos ou expressar pensamentos, tornaram-se menos claras. Tais filósofos modificaram a linguagem da crítica literária para que essa pudesse servir seus objetivos filosóficos, reinventando, assim, o significado de teoria. Minha primeira reação a isso foi ignorar o que percebi. Apesar do egocentrismo dessa tendência, pensei que algo de bom pudesse resultar dela. Eu sentia ter coisas mais urgentes e interessantes a fazer, tais como ler e estudar a história e a literatura das mulheres negras, uma história que havia sido totalmente ignorada, uma literatura contemporânea que explodia em originalidade, paixão, insight e beleza. Contudo, infelizmente é difícil ignorar esse novo controle do mundo literário, já que a teoria se tornou uma mercadoria que ajuda a determinar se seremos admitidas ou promovidas dentro das instituições acadêmicas ou, pior, se seremos pelo menos ouvidas. Nessa nova orientação, trabalhos (palavra que evoca labor) se transformaram em textos. O crítico não se interessa mais pela literatura, e sim pelos textos de outros críticos; o anseio do crítico por atenção acabou deslocando o escritor, fazendo com que o primeiro se percebesse como centro. É interessante
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CHRISTIAN, B. (2002). A disputa de teorias. Revista Estudos Feministas, 10(1), 85–97. https://doi.org/10.1590/s0104-026x2002000100005
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