humanidade vive, hoje, um momento de sua his-tória marcado por grandes transformações, de-correntes sobretudo do avanço tecnológico, ANTÔNIO J. SEVERINO Professor de Filosofia da Educação da Faculdade de Educação da USP nas diversas esferas de sua existência: na produção eco-nômica dos bens naturais; nas relações políticas da vida social; e na construção cultural. Esta nova condição exige um redimensionamento de todas as práticas medi-adoras de sua realidade histórica, quais sejam, o traba-lho, a sociabilidade e a cultura simbólica. Espera-se, pois, da educação, como mediação dessas práticas, que se tor-ne, para enfrentar o grande desafio do 3 o milênio, inves-timento sistemático nas forças construtivas dessas prá-ticas, de modo a contribuir mais eficazmente na construção da cidadania, tornando-se fundamentalmen-te educação do homem social. A educação, como processo pedagógico sistematizado de intervenção na dinâmica da vida social, é considerada hoje objeto priorizado de estudos científicos com vistas à definição de políticas estratégicas para o desenvolvimen-to integral das sociedades. Ela é entendida como media-ção básica da vida social de todas as comunidades huma-nas. Esta reavaliação, que levou à sua revalorização, não pode, no entanto, fundar-se apenas na sua operacionalidade para a eficácia funcional do sistema socioeconômico, como muitas vezes tendem a vê-la as organizações oficiais, gran-des economistas e outros especialistas que focam a ques-tão sob a perspectiva da teoria do capital humano. Sem dúvida, a existência real dos homens é profunda-mente marcada pelos aspectos econômicos, até porque esta dimensão econômica, devidamente entendida, cons-titui mesmo uma referência condicionante para as outras dimensões da vida humana, uma vez que ela se liga à pró-pria sobrevivência da vida material. Porém, a significação dos processos sociais e, no seu âmbito, dos processos educacionais não se restringe a essa sua funcionalidade operatória. Se, de um lado, é a realida-de dos fatos que permite que a educação tenha alguma incidência social, de outro, essa eficácia só ganha legiti-midade humana se se referir a significações que ultrapas-sem sua mera facticidade e seu desempenho operacional. Buscar explicitar esses valores e significações é o que cabe a uma abordagem filosófica da educação e tal é o objeti-vo deste texto, ainda que nos restritos limites de espaço de que dispõe. Refletir filosoficamente sobre a educação não é dispen-sar os dados e análises que as ciências especializadas podem trazer e fazer; ao contrário, uma abordagem filosó-fico-educacional precisa levar em consideração esse retra-to de corpo inteiro que a ciência faz da educação nos dias de hoje. O pensar filosófico não parte de referências abs-tratas e idealizadas, aprioristicamente colocadas, mas sim da própria realidade de seu objeto. Assim ela toma em conta as conclusões das ciências, procurando clarear os objeti-vos e finalidades que precisam ser selecionados e privile-Resumo: O texto desenvolve uma reflexão filosófico-educacional sobre a condição da educação como prática mediadora da existência histórica dos homens, explicitando seus desafios e compromissos diante da sua situação concreta no contexto social brasileiro da atualidade. Palavras-chave: educação e sociedade; educação e trabalho; educação e realidade brasileira.
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SEVERINO, A. J. (2000). Educação, trabalho e cidadania: a educação brasileira e o desafio da formação humana no atual cenário histórico. São Paulo Em Perspectiva, 14(2), 65–71. https://doi.org/10.1590/s0102-88392000000200010
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