A lguns analistas de cri-anças mais ortodoxos, até há bem pouco tempo, alimentavam a esperança de colocar todos os seus pequenos — e quase sempre agita-dos — pacientes no diva. Com isso, supunham que o setting analítico estaria sendo recuperado em sua inteireza, ao mesmo tempo em que estariam sendo afastadas certas práticas pouco analíticas, como o uso do desenho, da argila ou o deslocamento incessante do ana-lista atrás de um paciente bem mais ágil que ele. Apesar disso, não há nada mais comum, entre os analistas de cri-anças de hoje, do que introduzir objetos mediadores na cena analíti-ca. Na análise de uma criança, por exemplo, o uso de um fantoche, através do qual o analista lhe fala-va, permitia-lhe responder a ele, o que não acontecera até o momen-to dessa introdução. Um recurso como esse é, aliás, mais usual do que se imagina entre os psicanalis-tas. Françoise Dolto (1981) usou uma vez, com um paciente adulto, uma boneca-flor; Alexandre Ste-vens, quando esteve no Rio de Ja-neiro em novembro de 1994, con-tou também como introduziu um boneco que funcionava como uma espécie de "ego auxiliar" para o paciente que estava sendo tratado. Embora não seja nada estranha a presença de objetos no setting da análise de crianças, o analista que não recebe crianças vê isso com • Psicanalista, prof. dr. do Instituto de Psicologia da USP, diretora geral do Lugar de Vida
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Kupfer, M. C. (1996). A presença da psicanálise nos dispositivos institucionais de tratamento da psicose. Estilos Da Clinica, 1(1), 18. https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v1i1p18-33
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