A partir de variadas expressões poéticas – fotográfica, cinematográfica, pictórica e literária – proponho contornar a ideia de vivo. Minha série fotográfica Água viva desenha a aproximação de uma menina com as águas correntes da cachoeira. A criança entra em contato com a matéria do mundo e com o invisível da natureza, sem margens que os distingam. Naomi Kawase, em seu filme Floresta dos Lamentos, mostra-nos que atravessar a floresta é, necessariamente, ser atravessada por ela. A artista Wilma Martins constrói pictoricamente irrupções da floresta no cenário domiciliar e, assim, ela dá forma ao vínculo entre o real e o imaginário; entre o selvagem e o domesticado. A personagem G.H., de Clarice Lispector, vive uma epifania a partir do encontro com uma barata – ser arcaico, remoto, imemorial, travessia íntima e subjetiva que faz emergir o mais primitivo de si. Entre o mundo que olhamos e o que vemos, o visível e o invisível, a matéria e o espírito, humano e não humano, somos atravessados pela energia do vivo. Reativar, palavra-chave no vocabulário da filósofa belga Isabelle Stengers, leva-nos de volta em direção ao vínculo com os deuses, os espíritos, a terra e, com estas alianças, reativar o vivo se compõe.
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Huven, P. (2023). Reativar o vivo, atravessar a floresta. MODOS: Revista de História Da Arte, 7(1), 344–368. https://doi.org/10.20396/modos.v7i1.8670588
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