Aspectos neuropsicológicos da esquizofrenia

  • Adad M
  • Castro R
  • Mattos P
N/ACitations
Citations of this article
34Readers
Mendeley users who have this article in their library.

Abstract

Introdução Pacientes esquizofrênicos demonstram alterações no desem-penho em uma grande variedade de testes neuropsicológicos. Estima-se que déficits cognitivos podem ser identificados em 40% a 60% dos indivíduos acometidos por essa condição psi-quiátrica. Vários estudos clínicos sugerem que alterações cog-nitivas podem ser observadas desde o início dos sintomas da esquizofrenia. Essas alterações parecem ser características re-lativamente estáveis na maioria dos pacientes esquizofrênicos, com pequena progressão ao longo do curso da doença. Ainda assim, alguns autores defendem o argumento de que esses dé-ficits cognitivos podem evoluir para um franco processo de-mencial, pelo menos em certos subgrupos de indivíduos aco-metidos por essa condição clínica. 1 Ainda que haja pouca discordância em relação à existência dessas alterações em pacientes esquizofrênicos, não existe unanimidade em relação aos aspectos qualitativos e quantitati-vos desses déficits. Uma das principais dificuldades nesse sen-tido é determinada pela grande variabilidade de abordagens metodológicas e conceituais empregadas na investigação des-sas alterações. Diferenças em relação à escolha dos grupos de amostragem, instrumentos de avaliação e interpretação dos re-sultados conduzem freqüentemente a conclusões conflitantes sobre esse assunto. Alguns autores defendem o argumento de que as alterações do desempenho cognitivo observadas na esquizofrenia têm ca-racterísticas compatíveis com um padrão de "déficit generaliza-do", semelhante àquele observado em processos patológicos difusos do SNC (por exemplo, intoxicação por metais pesados, hipoxia cerebral). Esse tipo de argumentação baseia-se principal-mente em determinados aspectos do funcionamento cognitivo de indivíduos afetados por essa condição clínica, como tendên-cia à imprecisão, ineficiência e alentecimento das respostas a uma grande variedade de testes neuropsicológicos. 2 Entretanto, a maioria dos estudos clínicos e experimentais sugere que pacientes esquizofrênicos apresentam alterações mais pronunciadas em relação a determinados setores do funci-onamento cognitivo. Os processos de atenção e memória, as-sim como as chamadas "funções executivas", parecem ser afe-tados de forma diferenciada em grande parte dos indivíduos acometidos pela doença. 3 Além disso, pacientes esquizofrêni-cos tendem a apresentar resultados mais baixos do que a popu-lação em geral em baterias de testes psicométricos voltadas à avaliação do quociente de inteligência. 4 Também são descritas alterações da coordenação motora simples e complexa, além de déficits de linguagem expressiva e receptiva, em indivíduos esquizofrênicos, ainda que essas alterações sejam freqüente-mente consideradas secundárias às alterações de atenção, de memória e de funções executivas. 3 Quociente de inteligência Atualmente, o quociente de inteligência é avaliado pela utili-zação de extensas baterias de testes psicométricos, como a es-cala WAIS-R (Wechsler Adult Intelligence Scale-Revised). 4 Essas escalas de avaliação são constituídas por diferentes subtestes, voltados ao exame de processos cognitivos, tais como nível geral de informação, pensamento lógico e abstrato, habilidades verbais e aritméticas, capacidades visoespaciais e viso-construcionais, atenção, memória e destreza psicomotora. No entanto, os resultados dessas escalas devem ser interpreta-dos com cautela, em função das variáveis envolvidas na reali-zação dos diferentes subtestes. Fatores como nível de instru-ção formal, faixa etária, presença de doença física ou psiquiátri-ca e utilização de drogas psicoativas podem interferir no de-sempenho em vários subtestes cognitivos, alterando de manei-ra significativa o índice final do quociente de inteligência. 3,4 Estudos clínicos demonstram que o índice do quociente de inteligência pré-mórbido de pacientes esquizofrênicos tende a situar-se em níveis mais baixos do que o de seus parentes em primeiro grau e indivíduos da mesma idade, nível de instrução formal e classe social. O quociente de inteligência pré-mórbido é avaliado por testes padronizados de leitura, como o Nart (National Adult Reading Test), ainda que uma estimativa desse índice também leve em consideração o grau de funcionamento ocupacional anterior ao aparecimento da doença. 4 A utilização de testes de leitura como instrumentos de avaliação do QI pré-mórbido baseia-se na premissa de que a maioria dos pacientes esquizofrênicos apresenta capacidades de linguagem relativa-mente preservadas, em contraste com as habilidades não-ver-bais, que parecem ser mais vulneráveis aos efeitos da doença. 4 O quociente de inteligência corrente (atual) também é objeto de investigação. Goldberg et al 5 realizaram um estudo de avali-ação neuropsicológica em pares de gêmeos idênticos discor-dantes para a esquizofrenia. Esse estudo demonstrou que indi-víduos afetados pela doença tendem a apresentar resultados significativamente mais pobres em testes de inteligência do que seus irmãos não afetados, de 80% a 95% dos casos. Uma das possíveis implicações desses resultados é que a esquizofrenia

Cite

CITATION STYLE

APA

Adad, M. A., Castro, R. de, & Mattos, P. (2000). Aspectos neuropsicológicos da esquizofrenia. Revista Brasileira de Psiquiatria, 22(suppl 1), 31–34. https://doi.org/10.1590/s1516-44462000000500011

Register to see more suggestions

Mendeley helps you to discover research relevant for your work.

Already have an account?

Save time finding and organizing research with Mendeley

Sign up for free