Resumo: O tema da modernidade tem ocupado a intelectualidade brasileira em diferentes épocas. No Brasil, a modernidade freqüentemente é vista como algo que vem de fora e que deve ser admirado e adotado, ou, ao contrário, considerado com cautela tanto pelas elites como pelo povo. A modernidade também se confunde, muitas vezes, com a idéia de contemporaneidade, uma vez que aderir a tudo que está em voga nos lugares adiantados tende a ser entendido como moderno. Atualmente, o que caracteriza o Brasil é uma contradição entre uma crescente modernidade tecnológica e a não realização de mudanças sociais que propiciem o acesso da maioria da população aos benefícios do progresso material. Palavras-chave: modernidade no Brasil; intelectuais; regionalismo. tema da modernidade é uma constante no Brasil e tem ocupado a intelectualidade em diferentes épo-cas. Trata-se de saber como estão os brasileiros RUBEN GEORGE OLIVEN Professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em relação ao " mundo adiantado " : primeiro a Europa e, mais tarde, os Estados Unidos. No Brasil, a modernidade, freqüen-temente, é vista como algo que vem de fora e que deve ou ser admirado e adotado, ou, ao contrário, considerado com cautela tanto pelas elites como pelo povo. A importação se dá por meio dos intelectuais que vão ao centro buscar as idéias e modelos lá vigentes, aclimatando-os num novo solo, que é a sociedade brasileira. A modernidade também se confunde com a idéia de contemporaneidade, uma vez que aderir a tudo que está em voga nos lugares adiantados é, muitas vezes, en-tendido como moderno. O pensamento da intelectualidade brasileira tem osci-lado no que diz respeito a estas questões. Assim, em cer-tos momentos, a cultura brasileira é profundamente des-valorizada pelas elites, tomando-se em seu lugar a cultura européia (ou mais recentemente a norte-americana) como modelo de modernidade a ser alcançada. Como reação, em outras épocas, nota-se que certas manifestações da cultura brasileira passam a ser profundamente valoriza-das, exaltando-se símbolos como Macunaíma – o herói brasileiro sem nenhum caráter e preguiçoso de nascença, personagem do romance homônimo modernista (Mário de Andrade, 1993) – a figura do malandro, o carnaval, o sam-ba, o futebol, etc. (Oliven, 1989). Em 1808, a família real portuguesa, fugindo do cerco napoleônico, transferiu-se para o Brasil que, de colônia, tornou-se sede da monarquia e vice-reino. Os treze anos durante os quais a corte permaneceu no Rio de Janeiro tiveram grande importância política e econômica e foram seguidos pela declaração de independência do Brasil, em 1822. A abertura dos portos brasileiros ao comércio exte-rior acarretou um fluxo de comerciantes e viajantes es-trangeiros para o país. Vários deles deixaram descrições muito interessantes a respeito da vida e dos costumes do Brasil durante o século XIX. Uma boa parte desses rela-tos concentrou-se no Rio de Janeiro, onde a família real vivia e que, por isso, tornou-se uma cidade " cosmopoli-ta " , na qual as pessoas mais abastadas tentavam se com-portar de uma maneira que elas supunham ser européia. No Rio, começou a se desenvolver, mais fortemente, a di-fusão cultural do gênero de vida burguês, eminentemente urbano, entre as classes altas. Outras cidades eram meno-res e a vida nelas era bastante simples quando comparada com a capital (Pereira de Queiroz, 1973). Os gostos requintados da classe alta do Rio de Janeiro foram observados por George Gardner, o superintenden-te britânico dos Jardins Botânicos Reais do Ceilão, que percorreu o Brasil de 1836 a 1841: " O grande desejo dos habitantes da cidade parece que é dar-lhe ares europeus, o que até certo ponto já acontece, parte pelo influxo dos próprios europeus, parte pelos próprios brasileiros que têm
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OLIVEN, R. G. (2001). CULTURA E MODERNIDADE NO BRASIL. São Paulo Em Perspectiva, 15(2), 3–12. https://doi.org/10.1590/s0102-88392001000200002
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