Como sociólogo, proponho desvincular analiticamente o tratamento da questão "as drogas como um problema social" como um problema "das drogas". A reação moral e normalizadora que vincula o consumo de diferentes tipos de substâncias a vícios de comportamento é a principal responsável pela criminalização conjuntural dessas substâncias e não está comprovado que apenas e exclusivamente o seu uso seja causa isolada de comportamentos violentos na esmagadora maioria de seus consumidores. A desnormalização do comportamento que se segue, muitas vezes, ao seu consumo, produz uma reação social mais repressiva quanto maior for a desvalorização, pelo consumidor, de que o indivíduo deva manter constante vigilância sobre seu comportamento. A valorização do autocontrole como economia de repressão é o resultado moderno da contenção moral do individualismo e, ao mesmo tempo, o principal propiciador da sedução que a perda temporária do autocontrole exerce sobre o indivíduo moderno. Deixar essa questão de lado, por enquanto, é uma exigência analítica, já que a mídia estilizou, nos últimos anos, a relação drogas/violência de tal modo que a opinião pública sente-se atraída mais uma vez a buscar o culpado na vítima.
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Misse, M. (2011). As Drogas como Problema Social. Periferia, 3(2). https://doi.org/10.12957/periferia.2011.3948
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