Os programas de controle das endemias, no Brasil, não têm conseguido eficiência nas suas ações, nem mesmo estando instrumentalizados com tecnologias eficazes. A lógica clássica, intervencionista e medicalizada das ações programáticas está centrada no ataque sistemático ao caramujo vetor e ao parasito, num total descompromisso social para com as comunidades assistidas. Compreende-se assim, o interesse e o compromisso ético da pesquisa em saúde pública em proceder a estudos onde os eventos ligados ao processo saúde/doença das comunidades fossem abordados com uma concepção estrutural de causas, integrando investigação e participação social. Dentro desta perspectiva articulada, merecem destaque como atributos causais não só os determinantes biológicos, mas também os sociais e ainda o componente cultural na sua dimensão histórica e representações simbólicas. A área de estudo escolhida foi a comunidade agrícola de Natuba, situada a cerca de 100 Km do Recife, localidade endêmica para esquistossomose e com estrutura político/comunitária organizada. Os recursos do método epidemiológico foram empregados para detectar as variáveis dependentes (relacionadas com a infecção humana) e independentes (demográficas, econômicas, sanitárias e sociais) através de questionário aplicado a todas as residências. Uma segunda abordagem metodológica, de cunho antropológico etnográfico, foi instrumentalizada através de entrevistas abertas e observação participante. O que se pretendeu, no final do estudo, foi fazer a articulação do conhecimento da doença esquistossomática nas suas várias dimensões ou níveis determinantes. Esta compreensão mútua, por parte dos pesquisadores e dos pesquisados, sobre os processos que intervêm na dinâmica de transmissão, permitiu a identificação de elementos relevantes para a construção conjunta de ações programáticas de controle dessa endemia, a nível local, com reflexos bem mais abrangentes para a saúde como um todo.
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Barbosa, C. C. G. S. (1997). Esquistossomose em Pernambuco: determinantes bio-ecológicos e sócio-culturais em comunidade de pequenos agricultores da Zona da Mata. Revista Da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 30(4), 347–348. https://doi.org/10.1590/s0037-86821997000400014
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