O fato de que a modernidade, como época histórica, nasce com a ciência e técnica moderna, mostra hoje toda sua virulência. Podemos até dizer que essa modernidade é tão pene- trada pela “técnica” que ela pode ser denominada e caracterizada como “modernidade técnica”. Propomos este conceito para evidenciar sua es- sência e falamos sobre a emergência desta modernidade para evocar, por um lado, seu advento processual e histórico e, por outro, seu alto grau de instabilidade e imprevisibilidade. A técnica contribui, em função de seu caráter contingente, para uma destituição da predominância da ra- cionalidade de fins, tão característica da fase histórica na qual surgiu o ca- pitalismo, por uma racionalidade contingente. Essa racionalidade de- soculta científica e tecnicamente o Ser, sem dispor de um fim que daria direção ou identificaria limites. Sem direção e limites a modernidade téc- nica desenvolve-se racionalmente, sem que haja uma proteção contra oscilações irracionalizantes que cas- tigam cada vez mais seu percurso. Apresentamos o nacional-socialismo alemão, o comunismo russo e a de- mocracia americana como três tipos ideais da modernidade técnica. Um olhar comparativo na direção da tríade modernizante do século XX demonstra tanto a indiferença valo- rativa da modernidade técnica, quanto nos faz compreender melhor os fenômenos contingentes e irra- cionais gerados no seu bojo.
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Brüseke, F. J. (2002). A modernidade técnica. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 17(49). https://doi.org/10.1590/s0102-69092002000200009
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