Como ver o tempo? Como o tempo se torna sensível? Essas são perguntas que nunca poderíamos terminar de fazer, pois cada resposta é, a cada vez, questionada na duração específica e na condição de visibilidade de cada nova experiência. Seria muito fácil tratar essa questão num nível metafísico, em que o tempo seria elevado a uma "condição transcendental", ideal demais, e onde percebê-lo seria menosprezá-lo em alguma experiência demasiado concreta, muito realista, como de uma simples condição imanente, ainda que ilusória, de sensibilidade. Não criemos tão rapidamente hierarquias ontológicas artificiais: é a armadilha em que sempre caem os filósofos generalistas e teóricos apressados. Nós só apreendemos o tempo através da nossa experiência psíquica, do corpo e do espaço ao nosso redor. Nós só nos localizamos e nos encontramos no visível através de uma certa percepção da duração, memória, desejo, antes e depois: um certo "tremor do tempo". Separar o visível do tempo pode tornar certas palavras mais claras, mais unívocas; mas, na realidade, tornaria as coisas - e especialmente as relações - incompreensíveis e desencarnadas. Seria necessário entender, portanto, como ver e estar no tempo não se separam e se compreendem reciprocamente.
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Didi-Huberman, G. (2018). Olhos Livres da História. Ícone, 16(2), 161. https://doi.org/10.34176/icone.v16i2.238900
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