Houve uma época em que os estudiosos supunham que o sujeito conhecedor de um assunto é etéreo, separado do assunto que conhece e intocado pela configuração geopolítica de um mundo em que as pessoas são racialmente classificadas e as regiões são racialmente configuradas. De um ponto de observação desapegado e neutro (que o filósofo colombiano Santiago Castro-Gómez define como a húbris do ponto zero), o sujeito conhecedor descreve o mundo e seus problemas, classifica pessoas e presume que sabe o que é bom para elas. Hoje, essa suposição não é mais sustentável, embora ainda existam muitos que a apoiem. Está em jogo a questão do racismo e da epistemologia. E houve uma época em que os estudiosos supunham que se você “vem” da América Latina, você precisa “falar sobre” a América Latina; que, nesse caso, você deve representar sua cultura. Essa expectativa não surge se o autor “vem” da Alemanha, França, Inglaterra ou dos Estados Unidos. Como sabemos: o primeiro mundo tem conhecimento, o terceiro mundo tem cultura; os nativos americanos têm sabedoria, os anglo-americanos têm ciência. A necessidade de ruptura política e epistêmica aqui vem à tona, assim como conhecimentos descolonializantes e decoloniais, etapas necessárias para imaginar e construir sociedades democráticas, justas e não-imperiais/coloniais.
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Mignolo, W. D., & Brussolo Veiga, I. (2021). Desobediência Epistêmica, Pensamento Independente e Liberdade Decolonial. Revista X, 16(1), 24. https://doi.org/10.5380/rvx.v16i1.78142
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