A problemática das identificações de gênero permite refletir sobre a contradição constitutiva dos processos de produção de sentido e do sujeito, que tanto reforçam o imaginário social quanto irrompem como acontecimento, abrindo brechas sociais e discursivas para o deslocamento de sentidos e a emergência de novas modalidades de subjetivação. Nosso trabalho desenvolve uma abordagem discursiva desta questão, considerando sua relação com práticas de militância. Objetivamos refletir sobre os processos discursivos que conduzem à construção de modalidades de identificação, seja de gênero, seja de outras modalidades que a esta se articulam em descontínuos movimentos da história. Compreendemos o gênero como uma construção discursiva, efeito de um processo de interpelação complexo e contraditório. Não se trata, portanto, de apontar para a dominância de sentidos normativos, mas principalmente de descrever os pontos onde eles entram em crise, quando vozes/corpos historicamente silenciados ou interditados entram em cena. Pensamos aqui na emergência de discursos nos quais os indivíduos são tomados como alvo de um processo de subjetivação gerando, ao mesmo tempo, um saber e um modo de falar sobre si. Neste sentido, debatemos o funcionamento da enunciação como constitutivo da subjetivação, analisando a materialidade da voz, do corpo e de um dizer de si na construção de um “lugar de fala” que se apresenta como eticamente e politicamente legítimo na luta contra identificações hegemônicas.
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Fontana, M. Z. (2018). “Lugar de fala”: enunciação, subjetivação, resistência. Revista Conexão Letras, 12(18). https://doi.org/10.22456/2594-8962.79457
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