Resumo: Este artigo pretende discutir a flexibilização do trabalho e sua precarização como conseqüência. Recupera duas questões relativas a formas de gestão e organização do trabalho que, num quadro de profundas transformações econômicas e sociais, são interpretadas em ângulos ora convergentes, ora contraditórios e excludentes: a) o trabalho informal, b) o trabalho autogestionário, analisados agora dentro da perspectiva participacionista das teorias de gestão empresarial e como alternativa aos custos que integram o trabalho assalariado. Palavras-chave: nova informalidade; trabalho autogestionário; trabalho flexível. Esta intervenção pretende discutir a questão da flexibilização do trabalho e sua precarização como conseqüência, buscando verificar as nuances dessa relação aparente de causa e efeito. Para isso, recupera duas questões relativas a formas de gestão e organização do trabalho que, em um quadro de profundas transformações econômicas e sociais, são interpretadas em ângulos ora convergentes, ora contraditórios e excludentes: a) o trabalho informal, historica-mente sinônimo de precariedade, percebido agora em sua positividade como trabalho flexível, através do conceito de empreendedorismo, em contraposição aos limites do trabalho assala-riado; b) o trabalho autogestionário, oriundo do movimento operário e concebido como um pri-meiro passo na superação do capitalismo, pode ser funcional para o capitalismo, dentro da perspectiva participacionista das teorias de ges-tão empresarial (pelo maior envolvimento dos trabalhadores na gestão) e como alternativa aos custos que integram o trabalho assalariado. Em comum, nas duas situações, a crescente partici-pação das mulheres na força de trabalho, perce-bidas como "flexíveis" por excelência. Participa-ção esta resultante das lutas e mudanças culturais a partir dos anos 60 e das transformações econômicas do período, dos processos de preca-rização das relações de trabalho, em que femini-zação também significa redução de custos. Nosso objetivo é analisar a informalidade e a autogestão como alternativas ao assalaria-mento formal, como trabalho atípico, não assa-lariado. Não necessariamente resultantes do fim do assalariamento, mas do enfraquecimento da relação salarial, entendida como relação social à qual foram agregados direitos sociais e que se transformou em condição de participação e de cidadania nas sociedades capitalistas avançadas, e como projeto de desenvolvimento nas demais. As mudanças políticas e econômicas das últimas décadas alteraram substancialmente as relações capital-trabalho e, conseqüentemente, aquelas entre classes e atores sociais. Entre essas mudanças, podemos destacar as novas tecnologias de produção-a microeletrônica e a telemática-, que revolucionaram os processos produtivos e a comunicação em tempo real, favorecendo as trocas financeiras nos mercados globais, a descentralização produtiva das ativi-dades de serviço, a formação de redes empre-sariais etc. Por sua vez, esses fenômenos pres-* Doutor em Sociologia, com pós-doutorado no Massa-chusetts Institute of Technology (MIT). Professor na Uni-versidade Federal de São Carlos.
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LIMA, J. C. (2007). Trabalho informal, autogestionário e gênero. Sociedade e Cultura, 9(2). https://doi.org/10.5216/sec.v9i2.478
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