O profissionalismo e a formação médica

  • Rego S
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Abstract

A palavra "profissional" está associada a um conceito muito importante em nosso quotidia-no e para o qual gostaríamos de trazer sua atenção neste final de ano. De fato, é fácil associar ideias ao conceito de profissional quando, por exemplo, precisamos de um eletricista para nossa casa ou de um mecânico para o nosso carro. Queremos contratar alguém em quem possamos confiar e que detenha um conhecimento especializado que atenda às nossas neces-sidades. Infelizmente, nem sempre é fácil achar um eletricista ou mecânico que atendam às nossas expectativas. Uma das razões é que, não sendo uma ocupação plenamente regula-mentada, não temos garantias de que os eletricistas e mecânicos com quem lidaremos te-nham a formação e experiência necessárias e nem a honestidade que se espera daqueles a quem gostaríamos de nos referir como profissionais. Tentamos aumentar nossa chance de ter nossas expectativas atendidas recorrendo a estabelecimentos comerciais que possuem outras responsabilidades adicionais com seus clientes, entre as quais a de ter verificado as qualifica-ções e habilidades desses trabalhadores. Mas, saindo deste exemplo introdutório, pensemos em sua relação com as profissões de fato e de direito e seus atores-os profissionais. Os sociólogos costumam identificar algumas profissões como ícones da profissionaliza-ção, e a medicina, a engenharia e a advocacia estão entre os exemplos mais costumeiros e tradicionais. Podemos dizer, inclusive, que o modelo de profissional que extrapolamos para trabalhadores em geral tem sua origem nas características práticas que marcam essas ocupa-ções altamente especializadas. Essas profissões, entre outras, requerem um longo e comple-xo processo de formação e se conformaram com a prática do que se convencionou chamar de "ideal de serviço", ou seja, o compromisso de colocar os interesses dos clientes à frente dos próprios interesses. Competência técnica, honestidade, compromisso de falar a verdade estão entre essas características que acabam sendo projetadas para as demais ocupações quando pensamos em nossas expectativas sobre como devem ser os profissionais que quere-mos contratar. O que conformava o profissionalismo nos séculos XIX e XX sofreu as inevitáveis mudan-ças resultantes das próprias transformações sociais e da forma como as profissões se relacio-navam com o aparelho de Estado. No final do século XX, essas mudanças já eram discutidas como sinais de que um processo de desprofissionalização estaria em curso. Na época, eu já entendia esse processo como uma reprofissionalização, ou seja, uma transformação nas bases do profissionalismo, com as mudanças nas relações econômicas. Hoje, devemos nos pergun-tar não apenas sobre quais são os valores, regras e normas da profissão médica para o século XXI, mas também sobre o que fazemos, como docentes e cidadãos, para formá-los. Lamentavelmente, é cada vez mais frequente acompanharmos na mídia nacional episó-dios em que ocorreram faltas lamentáveis de profissionalismo entre colegas. As mais recen-tes estiveram relacionadas a ausência por motivo não razoável e nem justificável a plantões, sendo o caso de maior repercussão a ausência de um neurocirurgião a um plantão no Hospital Salgado Filho, no Rio de Janeiro. Ainda que o caso não deva ser discutido sem conside

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Rego, S. (2012). O profissionalismo e a formação médica. Revista Brasileira de Educação Médica, 36(4), 445–446. https://doi.org/10.1590/s0100-55022012000600001

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