Após sucessivas dificuldades de encaminhar respostas à pergunta original – O terapeuta é um cientista? -, considerou-se que o estrangulamento estava na maneira como a pergunta estava formulada após o que se procurou responder à seguinte questão: é possível que o profissional produza sistematicamente conhecimento novo (portanto, relevante para a comunidade científica) enquanto age como terapeuta? Note-se que não se questionou se seria possível que um terapeuta fosse também um pesquisador (assumido ponto de partida). A questão que se apresentou, então, foi: a atividade profissional do terapeuta pode atender aos requisitos para caracterizar a pesquisa, tomados como sendo a) a existência de um pergunta ou conjunto e perguntas cuja resposta é importante encontrar porque configura conhecimento novo e relevante teórica e/ou socialmente; b ) a elaboração de um conjunto de passos que permitam obter informação necessária para chegar à resposta; c) um sistema de referência que permita tratar e analisar as informações obtidas; d) a indicação do grau de confiabilidade na(s) resposta(s) encontrada(s) (em outras palavras, por que aquela(s) resposta(s), nas condições da pesquisa, é(são) a(s) melhor(es) resposta(s) possível(eis)?). A partir de então, analisou-se e se contrapôs a atividade de terapeuta e do pesquisador, enfatizando-se os seguintes aspectos: 1. compromisso epistemológico e tipo de ênfase na formação; 2. desenvolvimento metodológico; 3. timing da pesquisa e da intervenção clínica. O resultado desse exercício permaneceu ambíguo. Nos termos das análises feitas e apresentadas, as conclusões levam a dizer que as contingências são todas desfavoráveis e, portanto, a junção das duas atividades é pouco provável de ser mantida sistematicamente. Mas, há outro conjunto de elementos que precisam ser considerados e que foram empurrando, ao longo das reflexões, para outro caminho de análise: a) O que deve reunir profissionais e pesquisadores não é uma curva acumulada, uma linguagem, nem um conjunto de procedimentos, mas uma maneira de encarar as relações recíprocas entre comportamento e meio. b) Há imensas lacunas no conhecimento de que se dispõe sobre essas relações e provavelmente muitas maneiras diferentes de produzi-lo. Se houver concentração na demonstração da funcionalidade do conhecimento produzido, provavelmente serão reduzidos os ruídos que se estabelecem sobre as melhores maneiras de produzi-lo. c) Essa concentração na funcionalidade do conhecimento dependerá do esforço conjunto daqueles que se dedicam à produção do conhecimento, à prestação de serviços e sobretudo daqueles que conseguem produzir conhecimento enquanto intervêm na situação natural. d) Valerá a pena tentar esse esforço coletivo; porém, será ainda mais proveitoso se se conseguir eliminar os vícios de formação, especialmente aqueles que transformam a competência teórico-metodológica e a produção de conhecimento em opção, em vez de fazer dela um compromisso epistemológico com a Psicologia e ético com o cliente e com o homem.
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De Luna, S. V. (2019). O terapeuta é um cientista? Perspectivas Em Análise Do Comportamento, 10(1), 007–015. https://doi.org/10.18761/pac.tac.2019.015
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