Em Cabo Verde, os agregados domésticos vivem entre desejos de formação de uma família nuclear, patriarcal e monogâmica e a criação de estratégias para driblar os múltiplos constrangimentos — como pobreza, migração, violência baseada no género e descrédito numa relação conjugal — com que são confrontados no quotidiano e que atropelam a concretização desse projeto, pessoal, familiar e nacional. Privilegiando a etnografia, a partir da observação participante e de entrevistas em profundidade com mulheres da ilha de São Vicente, chefes de família em casas marcadas pela monoparentalidade, o presente artigo analisa os significados e a importância que as mulheres cabo-verdianas atribuem à ausência e à presença de um homem dentro de casa e problematiza esses significados dentro de um quadro de paradoxos e contradições, concluindo que essas mulheres assumem o papel de sustento da casa, mas, porque querem uma casa de respeito e respeitada pelos outros, negoceiam a possibilidade de ter um homem dentro de casa, mesmo que não sustente, mas que mande. Porque, para essas mulheres, casa sem homem é um navio à deriva.In Cape Verde, households are caught between the wish of a monogamist patriarchal nuclear family and the creation of strategies to overcome the various constraints—such as poverty, emigration, gender-based violence, disrepute to the marital relationship— that they face on a daily basis and which endanger the completion of this personal, familiar and national project. Based on ethnographic research, through participant observation and in-depth interviews with women from the island of São Vicente (householders in homes marked by single parenthood), this article analyzes the meanings and importance that the Cape Verdean women attribute the absence and presence of a man in the house, and discusses these meanings within a framework of paradoxes and contradictions, concluding that these women take the home support role, but, because they want their homes to be respectable and respected by others, they negotiate the possibility of having a man in the house, even if he does not support the household but does give the orders. For these women, a house without a man is a ship adrift.
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Fortes, C. (2018). “Casa sem homem é um navio à deriva”: Cabo Verde, a monoparentalidade e o sonho de uma família nuclear e patriarcal. Anuário Antropológico, v.40 n.2, 151–172. https://doi.org/10.4000/aa.1425
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