Na comunidade de Feira Nova, um pequeno povoado rural, pertencente à cidade de Orobó, no Agreste pernambucano, Nordeste do Brasil, há um ideal de infância que se encontra relacionado ao não trabalho, à escolarização e à ludicidade. Contudo, essa compreensão de infância não foi vivenciada pelas gerações de avós e mães das crianças da geração contemporânea. Essa negação está, sobretudo, assentada na necessidade que lhes foi imposta pelo trabalho precoce e pela ausência total ou parcial de escolarização. Diferente das predecessoras, a geração atual de crianças encontra-se determinantemente marcada pela escolarização e largamente ausente do trabalho infantil, o que vem configurando uma importante mudança na forma em que a infância é vivenciada nesse contexto. O presente texto refletirá sobre essas mudanças que reverberam em uma maior atenção para as crianças no meio rural e surgem a partir de um processo de institucionalização da infância. Esse processo ganha força a partir da implementação e efetivação de programas sociais de transferência condicionada de renda, a exemplo do Programa Bolsa Família, que nesse contexto vem mudando, entre outras coisas, o lugar de socialização das crianças rurais e as marcas geracionais da infância.
CITATION STYLE
Santos, P. O. S. dos, & Pires, F. F. (2018). A invenção da infância. Revista de Antropologia, 61(2), 156–186. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2018.148951
Mendeley helps you to discover research relevant for your work.