Neste artigo, discuto a gestação como momento de revalidação e atualização dos laços de parentesco. A partir de narrativas de gestantes de camadas médias no Rio de Janeiro, analiso o modo como imaginam a aparência física de seus bebês recor- rendo aos traços físicos de suas famílias. Pensar no bebê esperado é uma instância de negociação com as identidades continuadas que vêm do passado, no momento em que se veem diante do futuro, projetando para o filho ou filha característi- cas, identidades e laços sociais. Neste processo, a associação entre parentesco e semelhança física é problematizada, na medida em que a continuidade física entre as gerações pode ou não ser desejada. Noções de beleza, raça e classe presentes na sociedade brasileira interferem no modo como o bebê esperado é imaginado. A continuidade entre as gerações que é desejada surge então menos como uma reprodução e sim como conexões “aperfeiçoadas”, destituídas dos traços indeseja- dos.
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Saraiva, C. (2007). Um museu debaixo de água: o caso da Luz. Etnografica, (vol. 11 (2)), 441–470. https://doi.org/10.4000/etnografica.2013
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