Neste artigo, abordamos modalidades de mise-en-scène documentária através do conceito de a-encenação. Descrevemos o corpo do sujeito-da-câmera na tomada, virado para a sensação em formas fílmicas contemporâneas. Historicamente, na tradição griersoniana, a encenação no documentário é ‘construída’, evoluindo num horizonte enunciativo marcado pelo corte educativo instrucional. A a-encenação possui a potencialidade de afirmar a diferença nos tipos ‘construído’ ou ‘direto’ (cinema verdade) da encenação documentária, ancorados, respectivamente, no modo epistêmico (clássico), ou recuado/reflexivo (direto-verdade). Como modo de encenação, a a-encenação consegue furar a tela da representação através de uma imitação excessiva da vida ou, no limite, adensando, pelo toque, um ponto que estaciona na espessura do filme. O que ela faz é grudar a matéria na sensação que parte da tomada, fazendo filme. É assim ela impõe a intuição do mundo que transcorre. Estendida na duração ela vira, dilata, estica e puxa - gosma do fluir que aprisiona a memória. A a-encenação documentária atinge o mundo através da capacidade do corpo maquínico do sujeito-da-câmera intuir a matéria além da extensão, da percepção e do entendimento. As formas da sensação e do sensitivo são, portanto, nela dominantes.
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Ramos, F. P. (2018). Ensaio Sobre a “a-encenação” no filme documentário. Aniki: Revista Portuguesa Da Imagem Em Movimento, 5(2), 236–256. https://doi.org/10.14591/aniki.v5n2.372
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