Desperdício alimentar

  • Rigaud J
  • Tavares Filho R
N/ACitations
Citations of this article
63Readers
Mendeley users who have this article in their library.

Abstract

O consumo de alimentos, ainda que seja um hábito que supostamente deveria atender a uma necessidade básica comum a todos os seres humanos, é afetado pelo processo de consolidação do consumismo na sociedade moderna que alterou um princípio fundamental: a definição do que seriam as necessidades básicas comuns; esta afirmativa pode estar atrelada, em definitivo, ao processo de desperdício de alimentos. Por mais básica que possa aparentar ser a necessidade humana de se alimentar, é imprescindível – para a compreensão da situação hodierna dicotômica entre a fome e a opulência – localizar a comercialização e o consumo de alimentos dentro dessa teia de significados reorganizados pela “fome” socialmente imposta por ideias mercantilistas. A partir de revisões de bibliografias que pautam o desperdício de alimentos, a liquidez do consumo, a cultura alimentar moderna e uma fusão com uma vivência etnográfica feita na Feira de São Joaquim na cidade de Salvador, o presente estudo nasceu da necessidade de entender por que, apesar de o desperdício de alimentos se manter como uma realidade crescente e preocupante em todo o mundo, grandes quantidades de alimentos ainda são descartadas por não se encaixarem nos padrões “estéticos” da grande maioria da sociedade? Logo, há-se a necessidade de refletir sobre o que pode ser considerado “lixo” quando se fala em alimentação e de que forma as ideias de consumo na sociedade moderna influenciam o descarte desses alimentos. O consumo parte da intencionalidade dos sujeitos de “vender-se”, ou seja, de, mediante a avaliação externa positiva, galgar posição social superior. Estes, suscetíveis a aceitações e rejeições, inserem-se em parâmetros estabelecidos socialmente numa hierarquia de consumo, na qual quão “melhores” forem os produtos consumidos, melhores sujeito serão; posicionando os indivíduos como mercadorias antes mesmo de se firmarem como sujeitos. Tal contexto contribui para que a população jogue no lixo porções de comida adequadas para o consumo, desperdiçadas pela vaidade em valorizar o consumo constante de comidas industrializadas. Dessa maneira, se desde os primórdios a necessidade básica comum era puramente a satisfação biológica e nutricional do corpo, com a emergência das ideias consumistas na modernidade, esse princípio passa a competir com aquele que valoriza o consumo como um mecanismo de promoção social sob uma lógica da mercantilização da vida e da sobrevalorização do bem individual em detrimento do coletivo. Por fim, sob um enfoque crítico da dinâmica global, é possível identificar que o consumo, em seu auge na era capitalista, nos insere em hábitos forjados que reforçam a estética do produto e mascaram as desigualdades. Hoje, em todo o mundo se produz muito mais do que se consome, provocando um alto índice de desperdício de alimentos; o que, em contrapartida, contribui diretamente para que populações inteiras continuem vivendo sob uma ótica de vulnerabilidade social e insegurança alimentar severa.

Cite

CITATION STYLE

APA

Rigaud, J. P. D. O., & Tavares Filho, R. A. (2019). Desperdício alimentar. Revista Ingesta, 1(2), 109–110. https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p109-110

Register to see more suggestions

Mendeley helps you to discover research relevant for your work.

Already have an account?

Save time finding and organizing research with Mendeley

Sign up for free