A problemática do historiador só pode nascer no seio de uma mente já pré-ocupada por uma dada formação histórica e pela presença de memória(s). Por isso, a par do desejo de aceder à verdade, o questionário revela, como em todo o acto de recordação, as preocupações do presente que o formula. Mas esta mediação também explica porque é que, nos interstícios e não ditos da resposta, se pode surpreender, escondida, a vala comum dos que ela cala e marginaliza. Assim sendo, o historiador só não se enrederá na sedução consensualizadora da memória e na legitimação da «história dos vencedores» se tiver a ousadia de também perguntar: Que versão do passado domina e quem é que a pretende preservar? E por quê? E o que é que, consciente ou inconscientemente, ficou esquecido? Ora, antes de responder, é necessário pôr em equação as relações entre memória, história e historiografia. E esse será o objectivo deste pequeno ensaio. “Este livro explicita reflexões feitas a partir do que escrevemos em dois trabalhos anteriores: Ritualizações da história (1996) e O Céu da Memória. Cemitério romântico e culto cívico dos mortos (1999). Uma primeira versão foi lida no encontro «Oficinas da História», realizado pelo Grupo de História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, nos finais de 1999. Um seu resumo foi publicado em Sandra Jutaly Pesavento (org.), Fronteiras do milênio, Porto Alegre, Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2001. Nos últimos três anos lectivos, ele também tem servido de apoio, com actualizações anuais, às nossas lições sobre memória e história, integradas na cadeira de Teoria e História e do Conhecimento Histórico que temos ministrado naquela Faculdade”.
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Cunniff, R. L. (1971). História e historiografia. Hispanic American Historical Review, 51(4), 655–657. https://doi.org/10.1215/00182168-51.4.655
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