Raízes do Brasil é uma tentativa audaciosa de empreender uma arqueologia do nacional. Toda a obra é atravessada pela indagação a respeito das condições de possibilidade da convergência entre um ethos cordial e os postulados de uma ordem racionalizadora e formalista. Para responder à questão, Sérgio Buarque de Holanda remonta ao período colonial, buscando a gênese deste ethos e da cultura que o materializa, de maneira a esclarecer os princípios que orientariam a conduta do brasileiro... Raízes do Brasil e The moral basis of a backward society operam, em um mesmo movimento, a duplicação de suas respectivas narrativas: de um lado, produzem uma etnografia de sociedades atrasadas; de outro, constroem modelos de desenvolvimento cujos elementos não encontram correspondência naquelas sociedades observadas. Assim, em Sérgio Buarque, a afirmação da cordialidade como característica da cultura política brasileira sublinha a ausência de civilidade; homologamente, em Banfield, o familismo amoral ressalta a falta de solidariedade no interior da sociedade montegranesi. Neste duplo movimento de construção e simulação de modelos, ambas as narrativas irão, portanto, afirmar a decalagem do caso estudado em relação ao modelo proposto.
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Esteves, P. L. M. L. (1998). Cordialidade e familismo amoral: os dilemas da modernização. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 13(36). https://doi.org/10.1590/s0102-69091998000100006
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