Esse artigo tem por objetivo interpretar as narrativas dos idosos sobre o mundo do traba-lho, sobretudo, com base em discussões teóricas que se têm feito sobre envelhecimento, gênero, trabalho e memória. Problematizaremos o papel assumido pela aposentadoria, visto que em algumas falas, esta é apontada como uma das causas da manutenção o idoso no mercado de consumo. Mostraremos o que pensam os idosos que ainda traba-lham, os que não conseguem fazê-lo por motivos de saúde, os que conseguiram-se se aposentar, os que ainda não conseguiram, sobre o valor da aposentadoria, quais as outras fontes de renda, qual o papel da família nessa relação, fazendo um contraponto com o trabalho rural, visto que os idosos de hoje são frutos de coortes de 1920, 1930 e 1940, e este tipo de trabalho era muito comum. É importante, dentro deste cenário, pontuar o fenômeno da feminização do envelhecimento, visto que o público idoso é formado majoritariamente por mulheres, e que fatores como a viuvez e o divórcio proporcionam um envelhecer sem a presença de uma companhia, isso culmina numa movimentação: a busca de atividades que promovam sociabilidade, renda e a busca de novos parceiros. Com base em dados obtidos, vão se delineando também as diferenças entre ser homem e ser mulher e as implicações que delas decorrem. Fator importante e que também pontu-amos, trata-se de mostrar que, com o fenômeno do envelhecimento populacional, toda a estrutura social se altera: as relações com indivíduos de outras faixas etárias; a maneira de lidar com os novos desenhos de família; o papel da previdência social e das políticas públicas, enfi m, as instituições e os indivíduos mudam suas maneiras de agir, assumem novos papéis na dinâmica da vida social. Palavras-chave: envelhecimento; memória; gênero; trabalho. Introdução A s investigações a respeito do modo de vida das pessoas idosas têm privilegiado a utilização da memória como expressão de suas vivências e aspirações. Mais do que mostrar o caráter seletivo dos dados fornecidos pela memória, este texto pretende revelar, por via da inter-pretação das entrevistas feitas com idosos de idades variadas, homens e mulheres, de condições socioeconômicas diversas, que o discurso que toma como base a memória é condicionado, como todo discurso, pelas contradições inerentes à prática social mais ampla e, especifi camente, desse segmento populacional.
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Rodrigues do Nascimento, A. J., & Chagas Rabelo, F. E. (2008). Memória e envelhecimento: narrativas sobre questões de gênero e do mundo do trabalho. Sociedade e Cultura, 11(2). https://doi.org/10.5216/sec.v11i2.5291
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