Enteropatógenos bacterianos, viróticos e parasitários têm sido associados freqüentemente a processos gastrintestinais entre indígenas da Amazônia. Entre os índios Parakanã, registrou-se freqüência da ordem de 4% para Shigella flexneri. Por outro lado, taxas de soroprevalência de 98% para a toxina lábil de E. coli foram assinaladas no seio dos Menkrangnotí, Parakanã, Xikrín e Asuriní. Revelaram-se expressivos reservatórios de Salmonella sp. os edentados (63% de positívidade) e os marsupiais (20%). Cepas de Shigella disenteriae foram detectadas em 4,2% de 40 índios Suruí avaliados, enquanto entre os Karitiána, isolaram-se, a partir de 85 coproculturas, uma amostra de Shigella boydii e 11 de E. coli. Os rotavírus se constituíram no agente causai do episódio epidêmico explosivo que acometeu os Tiriyó, em julho-agosto de 1977. Utilizando-se a contra-imuno-eletro-osmoforese, detectaram-se 25,6% de soroconversões, com base no exame de 127 amostras pareadas. O sorotipo I de Birmingham caracterizou-se como o agente causai da epidemia que abrangeu, pelo menos, 80% da população sob risco: crianças e velhos foram os mais atingidos. Estudos soroepidemiológicos empreendidos em 13 comunidades indígenas da região amazônica denotaram elevadas taxas de soropositividade (maiores de 50%) para rotavírus, em termos gerais, conquanto os Parakanã Novo se tenham revelado não-imunes a esses agentes. O gradativo aumento na freqüência de anticorpos com a idade sugere persistência dos rotavírus nessas comunidades. Ainda, o registro de resultados positivos em crianças de baixa idade sugere o caráter endêmico das infecções. Expressivas taxas de positividade quanto à presença de anticorpos para rotavírus foram detectadas entre os Suruí (67,8%) e os Karitiána (77,4%). Enteroparasitas de importância médica também foram detectados. S. stercoralis, Giardia lamblia e Entamoeba hystolitica foram assinaladas, entre os Suruí, em freqüências de 33,3%, 3,3,% e 0,8%, respectivamente. Esses mesmos patógenos foram detectados em freqüências, por ordem, de 3,9%, 12,7% e 8,8% ao exame de amostras fecais oriundas dos Pacaánova. Elevada taxa de Entamoeba hystolitica, cerca de 40%, foi observada entre os Yanomámi. As precárias condições de saneamento em que vivem essas populações, os hábitos inadequados de higiene e possível existência de reservatórios silvestres de enteropatógenos são alguns dos fatores que concorrem para o panorama descrito. Especial atenção merece ser dirigida, presentemente, às chances de propagação da cólera entre os silvícolas amazônicos.Bacteria, viruses and parasites have frequently been associated with gastroenteritis among Amerindians living in the Amazon region. Shigella flexneri has been found in 4% of diarrhoeic specimens collected from Parakanã Indians. In addition, antibodies to the E. coli labile toxin have been detected in 98% of Indians belonging to the Menkrangnotí, Parakanã, Xikrín and Asuriní communities. Both wild edemata and marsupials seem to be important Salmonella sp. reservoirs as studies have demonstrated the occurrence of infection in 63% and 20% of them, respectively. Shigella disenteriae has been isolated from 4.2% of Suruí Amerinds. Among the Kantiána, Shigella boydii (one isolate) and E. coli (11 isolates) were recovered from 85 specimens processed for bacterial enteropathogens. Rotaviruses were the causative agent of an extensive outbreak of diarrhoea among the Tiriyó, in July-August, 1977. By using the counter-immune-electro-osmophoresis, seroconversions were detected in 25.6 % of paired (pre- and post-epidemic) serum samples. Birmingham serotype I was identified as the causative agent of the outbreak, which affected at least 80% of the population at risk: the clinical attack rates were more prominent among both young children and the elderly. Studies on the prevalence of rotavirus antibody among 13 Indian communities in the Amazon region yielded, in general, positivity rates greater than 50%. However, the Parakanã Novo were found to be non-immune to rotaviruses. The increasing rates of seropositivity with age suggest the persistence of rotaviruses in these communities; in addition, high rates of positivity among young children suggest that rotavirus infection may be endemic. Both Suruí and Karitiána were found to have high prevalence rates of rotavirus antibody: 67.8 and 77.4, respectively. Wild marsupials may possibly play a role in the transmission of rotaviruses among Indians. Parasites have also been associated with gastrointestinal disease among Indians in the Amazon region. S. stercoralis and Entamoeba hystolitica have been detected among the Suruí in frequencies of 33.3%, 3.3% and 0.8%, respectively. Among the Pacaánova the same parasites have been recorded in frequencies of 3.9%, 12.7% and 8.8%, respectively. Entamoeba hystolitica was found in 40% of the Yanomámi The poor sanitation conditions and hygiene practices, as well as the possibility of the contact of Indians with wild reservoirs, account for the spread of enteropathogens within these communities in the Amazon region. Special precautions should be currently taken with respect to the possibility of the introduction of cholera among these Amerindians.
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Linhares, A. C. (1992). Epidemiologia das infecções diarréicas entre populações indígenas da Amazonia. Cadernos de Saúde Pública, 8(2), 121–128. https://doi.org/10.1590/s0102-311x1992000200002
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