O artigo busca a articulação das noções de racionalidade, interesse, valores e cultura. Na sociologia weberiana, a racionalidade é associada ao capitalismo moderno e ao "espírito empresarial". Outros autores (Off, Hirschman, Veblen, Simmel, Elster) têm discutido quão difícil é a realização do encontro entre o "moderno" e o "racional". Destas análises, é possível apontar duas questões relevantes para o estudo da problemática empresarial. A primeira é que o desenvolvimento do capitalismo tem, de fato, imposto e universalizado a racionalidade econômica, porém não a tornou nem homogênea nem independente da influencia da cultura. A segunda diz respeito à influência dos valores sobre a racionalidade econômico-empresarial, formulando normas e regras que dão fundamento e orientam as ações e iniciativas para a manutenção do patrimônio e para a realização do lucro. Pode-se então falar de "cultura de empresa" que leva a refletir sobre um conjunto de formas de regulação cultural das empresas, formas que são herdadas de uma longa história industrial e que devem ser ponderadas por produzirem efeitos sistemáticos. Com isso, o "espirito empresarial", como expressão da racionalidade capitalista, pode ser enriquecido por dimensões que incluem um conjunto de práticas e valores fundados em referências advindas de diferentes ambientes, familiar, territorial, político e social. Conclui-se que as empresas não podem ser vistas exclusivamente sob a ótica organizacional, já que estas são inseridas em uma cultura de uma sociedade, de uma região, das tradições e organizações profissionais. Também, as empresas conseguem ter influências sobre diversas dimensões da vida social, estabelecendo elos e trocas com as instituições, grupos e comunidades.L' article porte sur le lien entre les notions de rationalité, d'intérêt, de valeurs et de culture. Dans la sociologie weberienne, la rationalité est associée au capitalisme moderne et à l'"esprit d'entrepreneur". D'autres auteurs (Off, Hirschman, Veblen, Simmel, Elster) traitent de la difficulté de réunir le moderne et le rationnel. Leurs analyses conduisent à certaines questions incontournables pour l'étude de la firme. Tout d'abord, le développement du capitalisme a imposé et universalisé la rationalité économique, mais il n'a pas rendu ce processus homogène ni indépendant de l'influence de la culture. Ensuite, les valeurs affectent la rationalité économique en créant des normes et des règles, qui orientent les actions et les initiatives dans le but de garantir le patrimoine et les profits. Il est possible de parler de "culture de la firme", ce qui conduit à prendre en considération les formes de régulation culturelle de la firme. De telles régulations proviennent d'une histoire industrielle longue et doivent être comprises car elles produisent des effets systématiques. L'"esprit entrepreneurial", comme expression de la rationalité capitaliste, peut être enrichi par de plus vastes dimensions qui incluent les valeurs et les pratiques provenant de différents environnements culturels, comme la famille, la communauté, les organisations politiques et sociales. En conclusion, les firmes ne peuvent être saisies uniquement sous l'angle organisationnel, car elles font partie d'une culture régionale et sociale et tissent des liens avec les cultures professionnelles et leurs organisations. En outre, les firmes peuvent affecter différentes dimensions de la vie sociale, en établissant des liens et des échanges avec les institutions, les groupes et les communautés.The essay deals with the connection among the notions rationality, interest, values, and culture. In the weberian sociology, rationality is associated to the modern capitalism and to the "entrepreneurial spirit". Other authors (Off, Hirschman, Veblen, Simmel, Elster) discussed how difficult is to joint the modern and the rational. Their analyses lead to some questions, which are relevant to the study of firm issues. Firstly, the development of the capitalism really imposed and universalized the economic rationality, but it did make this process neither homogeneous, nor independent from the culture influence. Secondly, values affect the economic rationality creating norms and rules, those orient actions and initiatives in order to maintain the patrimony and have profits. It is possible to speak about "firm culture" that leads to consider the firm's cultural regulations forms. Such regulations are inherited from a long industrial history and have to be understood because they produce systematic effects. The "entrepreneurial spirit", as the capitalistic rationality expression, can be enriched by larger dimensions including values and practices coming from different cultural environments, such as family, community, political and social organizations. In conclusion, firms cannot be seen on the only organizational optic, because they are part of a regional and social culture and they are linked to professional cultures and their organizations. In addition, firms are able to affect different dimensions of the social life, setting-up links and exchanges with institutions, groups, and communities.
CITATION STYLE
Cappellin, P., & Giuliani, G. M. (2002). A racionalidade, a cultura e o espírito empresarial. Sociedade e Estado, 17(1), 123–152. https://doi.org/10.1590/s0102-69922002000100008
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