Em diálogo com os estudos de parentesco na antropologia, este artigo discute uma noção contracultural de família a partir de relações afetivas desenvolvidas entre pessoas de diferentes nacionalidades radicadas no interior do Brasil. Eles e elas, antigos moradores de “comunidades alternativas” e também jovens buscadores de uma Nova Era, entendem que uma família natural é reunida pela continuidade das relações recíprocas de amizade e livre obrigação convertidas em relações horizontais de fraternidade. Estabelecem, assim, uma distância em relação às chamadas famílias biológicas, determinadas pelo nascimento, e ao modelo de sociedade patriarcal, estruturado verticalmente. Não há uma substituição de modelos; as famílias biológicas são incorporadas à família natural quando preenchem os requisitos de horizontalidade e continuidade das relações dereciprocidade. Desdeumavisão holista sobre a natureza, são construídos “signos de proximidade” que enfatizam essa experiência contracultural de família. Trata-se de um questionamento a respeito da natureza das relações de parenteco e da predominância das explicações biogenéticas no “Ocidente”, revelando uma natureza alternativa que confere forma e conteúdo aos laços familiares. Os dados analisados são resultantes de trabalho de campo conduzido no município de Alto Paraíso de Goiás, entre 2010 e 2012, para elaboração da tese de doutorado do autor.In dialogue with kinship studies in Anthropology, this paper discusses a countercultural notion of family related to affective connections developed between people of different nationalities residing in Brazil countryside. They are former inhabitants of alternative communities and young seekers of a New Age. There is a shared understanding that a natural family is gathered by the continuity of friendship relations and free obligations converted into horizontal relations of brotherhood. These relationships contrast with the so called biological families, determined by birth, and with the vertically structured patriarchal society model. There is no replacement of models, for biological families are incorporated into the natural family when they meet the requirements of horizontality and continuity of reciprocal relations. From a holistic view of nature, people build ‘signs of proximity’ that emphasize this countercultural family experience. It is all about questioning the nature of kinship relations and the predominance of biogenetic explanations in the ‘West’, revealing an alternative nature that gives form and content to family ties. The analysed data were collected during fieldwork in Alto Paraíso de Goiás between 2010 and 2012, for the author’s PhD thesis.
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de Almeida Santos, S. M. (2018). A família natural da Nova Era: afetos, culturas e naturezas. Anuário Antropológico, v.41 n.2, 9–31. https://doi.org/10.4000/aa.1785
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