N utrição e Alimentos é dos temas mais globalmente discutidos na atualidade, quer nos países desenvolvidos, quer naqueles em desenvolvimento, tanto na mí-dia como na literatura científica, sob o ângulo da sua quantidade e/ou qualidade, convergindo, invariavelmente, para um ponto central, seu impacto na saúde humana. A importância do alimento para a promoção da saúde ou tratamento de doenças é reconhecida desde o século V a.C.: "Que o teu alimento seja o teu remédio e que o teu remédio seja o teu alimento". À medida que os conhecimentos avançam no campo da endocrinologia e da metabologia, aumenta nossa certeza de que esse ensinamento de Hipócrates deva ser cada vez mais perseguido. Este volume dos ABE&M fornece um pequeno exemplo do papel decisivo do consumo de alimentos e do nosso estado nutricional exercido no processo de saúde e doença. Ainda que consideremos a carga genética dos maiores determinantes do nosso histórico de doenças, há evidências consistentes do potencial de fatores dietéticos em alterar a história natural destas. É possível afirmar que os principais problemas de saúde pública da atualida-de relacionam-se aos hábitos de vida, especialmente à dieta e à atividade física (1,2). A doença endocrinometabólica mais prevalente no mundo-obesidade-com grande im-pacto na morbimortalidade das populações (3), poderia ser, em grande parte, prevenida por bons hábitos alimentares, desde a infância ou mesmo antes disso, durante a vida in-trauterina. No outro extremo, está o paciente com diabetes melito tipo 2 e síndrome me-tabólica, metabolicamente descompensado e com complicação macrovascular debilitante, que também pode ter seu prognóstico melhorado à custa de plano alimentar adequado. Reconhecer nutrientes, alimentos ou padrão alimentar como fator causal de doen-ças tem exigido grande volume de estudos criteriosos, uma vez que não dispomos ainda de metodologia acurada para medir o consumo alimentar. Reconhecer um fator causal infelizmente nem sempre é sinônimo de capacidade de prevenção da doença ou de efetividade em seu tratamento. A endocrinologia e metabologia têm exemplos de sucesso nessa linha, especialmente quando há carência de certos nutrientes. Porém, quando a intervenção depende de mudanças de compor-tamento, nossa atuação como profissionais da saúde pode, num primeiro momento, se tornar bastante frustrante. Os desafios movem a pesquisa; nesta área comportamental temos muito que aprender. A preocupação com a alimentação saudável é hoje, como deve ser, universal. Pes-quisadores em saúde humana e animal, em ciência dos alimentos, governantes, orga-nizações internacionais e a indústria de alimentos devem sincronizar seus trabalhos no sentido de gerar conhecimento e disponibilizar alimentos seguros para viabilizar uma dieta saudável em âmbito populacional, em ambiente favorável a bons hábitos de vida, minimizando os agravos dependentes da nutrição inadequada. Esperemos que, dessa forma, nossa atuação sobre diversas doenças endocrinometabólicas possa ser facilitada em futuro próximo.
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Ferreira, S. R. G. (2009). Nutrição não sai de moda. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, 53(5), 483–484. https://doi.org/10.1590/s0004-27302009000500001
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