Rev Port Med Geral Fam 2012;28:442-7 443 opiniãoedebate contemplando recursos para os cuidados em final de vida. A prestação de cuidados a estes doentes, em situa-ção de doença avançada ou terminal, tenderá a ser tam-bém a realidade dos Cuidados de Saúde Primários (CSP). Estaremos preparados para este desafio? MEDICINA GERAL E FAMILIAR (MGF) E CUIDADOS PALIATIVOS, DISCIPLINAS TÃO DÍSPARES? Apesar dos Cuidados Paliativos, como especialidade, terem emergido em instituições próprias (os hospices), foi progressivamente apercebido que seria remota a possibilidade de todos os doentes em situação termi-nal terem ou, mesmo, necessitarem do apoio de pro-fissionais especializados. 3 Efectivamente, a maioria do tempo no ano prévio à morte é passado na comunida-de e grande parte dos cuidados aos doentes no último ano de vida tende a ser realizada pelos médicos de fa-mília. 4 Entre as competências definidas para os médicos de família encontra-se a prática longitudinal de cuidados – «um envolvimento que deve ser contínuo desde o nas-cimento (por vezes antes) até à morte (por vezes de-pois)». 5 Este envolvimento, que com naturalidade, sur-ge na prática dos médicos de família, é alicerçado pela existência de vários princípios comuns entre a MGF e os Cuidados Paliativos, entre os quais se incluem: cui-dados de saúde centrados na pessoa doente; visão glo-bal e holística, integrando aspectos psicossociais e a fa-mília; a comunicação como a técnica primordial para atingimento dos objectivos; o meio em que o doente está inserido como aspecto fundamental a capacitar e/ou preservar; acessibilidade e continuidade dos cui-dados e o trabalho de equipa interdisciplinar. Não surpreende que, muito antes da génese dos cui-dados paliativos, haja relatos de médicos de família questionando actividades de índole curativa nos seus doentes terminais. No longínquo ano de 1957, Ian Grant, médico de família, descreveu e evidenciou, na sua conduta clínica, os principais princípios que, dé-cadas mais tarde, viriam a definir os cuidados paliati-vos. 6 Provavelmente, muitos outros terão tido condu-tas similares, orientadas por uma visão centrada no doente e que, naturalmente, os aproximou dos padrões de qualidade hoje estabelecidos para os doentes ter-minais.
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Aguiar, H. (2012). Os cuidados paliativos nos cuidados de saúde primários - O desafio para o século XXI. Revista Portuguesa de Clínica Geral, 28(6), 442–447. https://doi.org/10.32385/rpmgf.v28i6.10985
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