Na filosofia de Gilles Deleuze, há uma ontologia, que é apresentada por meio da tese da univocidade do ser. Na história da filosofia ocidental, Deleuze destaca três momentos da univocidade do ser: com Duns Scot, o ser é pensado como unívoco (momento da univocidade); com Espinosa, o ser é afirmado como unívoco (momento da imanência); com Nietzsche, o ser é realizado como unívoco (momento da diferença). Em todo caso, a univocidade é uma alternativa à analogia, e a principal discordância entre essas duas teses é que a analogia insere uma hierarquia e uma negatividade no cerne do ser, ao passo que a univocidade põe o ser como igual (não-hierárquico) e isento de negatividade (neutro ou afirmativo).Neste artigo, não se trata de apresentar a teoria da univocidade do ser em Deleuze, mas de explorar a leitura que ele faz da univocidade do ser em Espinosa, e sobretudo a variação a ela imposta entre o primeiro e o segundo livros dedicados ao filósofo holandês, Espinosa e o problema da expressão (1968) e Espinosa: filosofia prática (1981). Constata-se que, no primeiro estudo, Espinosa é tido principalmente como herdeiro de Duns Scot, e no segundo, ademais, como aliado de Nietzsche. Tem-se como hipótese que Espinosa é arrastado, nesse ínterim, do segundo para o terceiro momento da univocidade do ser, na vassoura de bruxa de Deleuze. A consequência é que a imanência e a afirmação se conciliam com a diferença. A afirmação do ser passa a ser afirmação da própria diferença. Ou, dito de outro modo, o ser deixa de serapenas afirmado para ser realizado como diferença. Chega-se, assim, a uma ontologia construtivista, que tem a ética como sua condição prática.
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Barbosa, M. de T. (2020). A ontologia espinosista de Deleuze: univocidade, imanência, diferença. Revista de Filosofia Aurora, 32(56). https://doi.org/10.7213/1980-5934.32.056.ds09
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