O debate que contrapôs capitalismo e socialismo como pólos opostos mutuamente excludentes tende a revelar-se tão sem importância para o terceiro milênio quanto mostrou ser nos séculos XVIII e XIX o debate entre católicos e os vários reformadores nos séculos XVI e XVII sobre o que constituía o verdadeiro cristianismo. Cada vez mais, um provável futuro não-capitalista deixa de ser identificado com a utopia socialista. Nesse contexto, o 'desenvolvimento sustentável', com todas as ambigüidades e insuficiências inerentes à expressão, certamente anuncia a utopia que tomará o lugar do socialismo. Essa é a tese central deste livro, que procura esmiuçar o que realmente traz de novo a idéia do desenvolvimento sustentável. Ao contrário de tomá-la como um 'conceito', como tem sido o senso comum, o autor a considera um enigma que pode ser dissecado, mesmo que ainda não resolvido. Por isso, primeiro são abordadas as três concepções conflitantes sobre o processo de desenvolvimento, assim como dos instrumentos que já foram criados para tentar medi-lo. Depois, o mesmo procedimento é usado para explicitar o caráter contraditório do adjetivo sustentável, e apresentar as recentíssimas tentativas de avaliar o quanto cada país ou território estaria distante desse ideal. Finalmente, é formulada a decorrente hipótese de que a retórica do desenvolvimento sustentável corresponde ao início da transição que superará o industrialismo, inaugurando nas sociedades mais avançadas uma etapa histórica cujas características estão longe de ser conhecidas, e, justamente por isso estão sendo chamadas de 'pós-industriais', 'pós-modernas', 'pós-fordistas', 'pós-burguesas', 'pós-econômicas', 'pós-escassez', 'pós-civilizadas', 'de conhecimento', 'de serviço pessoal', 'tecnotrônica', entre outras.
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Sachs, I. (2004). Desenvolvimento sustentável: desafio do século XXI. Ambiente & Sociedade, 7(2), 214–216. https://doi.org/10.1590/s1414-753x2004000200016
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