HIV/Aids, os estigmas e a história

  • Silva A
  • Cueto M
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Abstract

Em abril de 2018, em meio às brumas em que mergulha o Brasil, do arbítrio, da intolerância, do sectarismo, preconceito e autoritarismo, vem a lume mais um número de História, Ciências, Saúde-Manguinhos, com conjunto de trabalhos que mostra o dinamismo da pesquisa em história da medicina e das ciências da vida nos últimos anos. A expressão "vir a lume" ganha conotação sugestiva por insinuar o papel que a divulgação do conhecimento pode e deve assumir na discussão dos rumos da sociedade que queremos ser, com perspectivas de futuro fomentadas por escolhas do presente, feitas a partir de uma administração consciente do passado. Manter o vigor da pesquisa acadêmica é um ato de resistência para um debate claro, aberto e democrático de ideias. Em meio a tantos retrocessos recentes, o Brasil deu um passo à frente na política de prevenção do HIV com a adoção da chamada PrEP (Profilaxia pré-Exposição), que desde dezembro de 2017 está presente em 36 centros de tratamento de 11 estados brasileiros. É indicada pela Organização Mundial de Saúde desde 2012 a populações mais expostas à infecção, como homens que fazem sexo com homens, população trans e trabalhadores do sexo. A PrEP baseia-se no uso de medicamento antirretroviral, neste caso o Truvada-sozinho ou associado a outros-, por pessoas não infectadas que compõem os segmentos mencionados. Embora esse seja um motivo para se comemorar, não pode nos deixar desatentos com as ameaças que pairam sobre o sistema de tratamento universal e gratuito, como as notícias de problemas na distribuição de medicamentos. A sustentabilidade dos programas de prevenção e a retomada das alianças com a sociedade civil são pontos que merecem atenção em momento de defesa do contingenciamento de recursos e de alinhamento com pautas conservadoras. A recepção e a divulgação da nova estratégia preventiva evidenciaram, no entanto, a persistência de velhas "metáforas" estigmatizantes que se associaram ao HIV e à Aids desde o seu surgimento, quando ganhou a conotação de "peste gay" (Sontag, 2007). Associar a infecção aos gays, caracterizando-os como inclinados à promiscuidade, é o que fez a recente reportagem "A outra pílula azul" publicada na revista Época (Thomaz, 2 abr. 2018), ignorando vários resultados acumulados sobre a PrEP, no Brasil e no exterior. O artigo prestou desserviço, ao sugerir que somente os gays deveriam estar atentos à prevenção do HIV e não ressaltar que a PrEP faz parte de uma estratégia preventiva integrada que comporta outras abordagens. Encorajou, com isso, o estigma contra aqueles que contraíram o vírus. O uso da expressão "grupo de risco", abandonada desde os anos 1990, denota desconhecimento e também preconceito contra a comunidade gay, que luta para se livrar do estigma de "vetor" do vírus. O subtítulo da matéria da revista Época-"O novo medicamento que está fazendo os gays abandonar [sic] a segurança da camisinha"-já evidencia equívoco e desinformação, uma vez que não existem dados que sustentem essa afirmação. Com base nisso, afirma que os CARTA Dos eDIToRes http://dx.

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Silva, A. F. C. da, & Cueto, M. (2018). HIV/Aids, os estigmas e a história. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 25(2), 311–314. https://doi.org/10.1590/s0104-59702018000200001

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